“A Batalha do Chile e os falsos democratas de internet” – Por Luiz Henrique Campos

Com o título “A Batalha do Chile e os falsos democratas de internet”, eis a Coluna Fora das 4 Linhas desta quinta-feira, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. “É para esses mais jovens que se faz necessário confrontar as inverdades de hoje com um período negro do nosso país, onde censura e morte passavam ao largo em meio ao silêncio cúmplice daqueles que, agora, ressurgem como defensores fakes da democracia ou falsas vítimas de internet”, expõe o articulista.

Confira:

Na trilogia “A Batalha do Chile”, o diretor Patricio Guzmán, um dos maiores documentaristas do mundo, mostra como os mares chilenos serviram tanto para a disseminação da cultura de povos locais quanto como um cemitério de presos políticos da ditadura de Augusto Pinochet nos idos da década de 1970. No Brasil, de acordo com o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, entregue em 2014 à então presidente Dilma Rousseff, ela uma das torturadas, as diversas modalidades de tortura utilizadas contra presos políticos durante a ditadura, entre 1964 e 1985, foram divididas entre “físicas”, “psicológicas” e “sexuais”.

À Comissão da Verdade, os presos políticos também citaram que foram submetidos a sessões de afogamento, estrangulamento, asfixia, sufocamento e espancamento por militares. Trago esse recorte da história, pois desde a abertura política até hoje, já vão 40 anos, parte dos que sofreram no período ainda estão vivos para contá-la, mas uma outra geração nasceu e está crescendo ouvindo relatos de que o Brasil vive em nossos tempos uma ditadura sem precedentes.

É para esses mais jovens que se faz necessário confrontar as inverdades de hoje com um período negro do nosso país, onde censura e morte passavam ao largo em meio ao silêncio cúmplice daqueles que, agora, ressurgem como defensores fakes da democracia ou falsas vítimas de internet. Assistindo na última terça-feira a um dos advogados de defesa dos acusados da tentativa de golpe na sessão de julgamento da admissibilidade da denúncia pelo Supremo Tribunal Federal (STF), alegar que um coronel foi submetido a constrangimento para aceitar a delação premiada, fico a imaginar os métodos usados nos porões da ditadura para obter as confissões.

Como bem disse à sua maneira o ministro Flávio Dino, como aceitar que um coronel do Exército, treinado para a guerra, se sinta pressionado, mesmo acompanhado de seus advogados, a concordar com os termos de uma delação premiada? São essas deturpações da verdade que tem que ser desmascaradas, sob pena de vivermos novamente um tempo sombrio no país. O método de construção do arbítrio não é isolado, nem fruto do voluntarismo. Ninguém foi rezar pela paz ou pela vida na frente dos quartéis, muito menos passear nos gramados da Praça dos Três Poderes em um domingo de sol. Aquilo foi sendo semeado na cabeça de incautos, talvez, mas por mentes sebosas, com o intuito de colocar o país na direção do arbítrio que sempre alimentou patologicamente suas visões de mundo. Isso não pode ser negligenciado e precisa ficar claro para essas e as próximas gerações.

*Luiz Henrique Campos

Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 Linhas”, no Blogdoeliomar.

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