A Bienal mudou a minha vida – Por Mirelle Costa

 

Difícil explicar o que senti ao ver meu livro na bienal e, melhor ainda, tive a oportunidade de conversar com vários leitores. Tá em cima, meu Povo! A XV Bienal Internacional do Livro do Ceará vai acontecer de 4 a 13 de abril de 2025, no Centro de Eventos do Ceará. Para esta edição, o tema é “Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura”. Antes que você questione, escute-nos. “Falamos sobre o apagamento e invisibilidade que as mulheres vivem ao longo da história, a dificuldade à educação, de se expressar, criar, publicar. Muitas mulheres foram queimadas nas fogueiras por não se encaixarem nos moldes sociais de sua época, por terem conhecimentos que incomodavam as pessoas. A Bienal fala sobre a luta, o direito ao existir, resistir. Falar sobre escritoras com escritas extremamente significativas, porém apagadas e invisibilizadas”, contextualiza Maura Isidório, coordenadora geral da Bienal.

Ainda não está convencido da importância de assumirmos um passado de desigualdade de gênero? Pois a Julie Oliveira vai te ajudar a entender com cordel:

 

Das fogueiras ao fogo das palavras: mulheres, resistência e literatura

Por Julie Oliveira

Contam que há muito tempo
Junto ao fogo e seu calor
Mulheres se reuniam
Para falar de amor,
Aventuras e desejos,
Sem nenhum medo ou temor.

O fogo que iluminava
Cada história preciosa
Mais tarde nos queimaria
Numa empreitada assombrosa
Nosso saber, nossa voz
Queriam silenciosa.

Se fosse muito sabida,
Curiosa, inteligente
Ou até mesmo se fosse
Muito bonita somente
Poderia ser queimada
Morta num fogo inclemente.

De caça às bruxas chamaram
Toda essa perseguição
Foi o maior genocídio
Que o mundo viu em ação.
Mulheres, e seus saberes,
Sofreram a condenação.

Uma condenação cruel
De uma sociedade
Patriarcal, duvidosa,
E misógina, na verdade,
De um sistema opressor
Cheio de perversidade.

Por séculos nossa memória
Sofreu com apagamento
E os direitos humanos
Negados, com o intento
De manter a estrutura
Desse mundo violento.
Apesar desse cenário
Sempre houve resistência
Nós encontramos maneiras
De preservar nossa essência
Unidas temos vencido
Lutado com insistência.
Se sou alfabetizada,
Se hoje posso escrever,
Se meu verso hoje é chama
Queimando o padecer
Devo isso às ancestrais,
Jamais posso me esquecer!

Celebro cada mulher,
Cada heroína da história.
Celebro nossa Dandara,
Sua força e trajetória,
Celebro Joana D’arc
Sua coragem e vitória!

Fortalecida eu também
Celebro o nosso presente
Celebro Luisa Cela
Secretária competente
Celebro Maura Isidório
Muito aguerrida e potente!

Nessa união poderosa
Há muitas pra celebrar
Suzete Nunes, Martinha,
Na nossa BECE, a lutar,
E a nossa Helena Barbosa
Na cultura a pelejar.

Tem Sarah Diva Ipiranga,
Minha mestra inspiradora,
Nina Rizzi que é poesia,
É grandiosa escritora,
Mas ainda temos mais
Dessa lista encantadora.

Em festa meu coração
Não perde uma de vista
Tem também minha xará
Julie Dorrico, na lista
Ao lado de Amara Moira
Escritora e ativista!

Mulheres admiráveis
Que inspiram o meu fazer
Um evento inesquecível
Vão fazer acontecer
Uma Bienal diversa
Imensa, vamos viver!

Das fogueiras renascemos
Não temos palavras rasas
Com a nossa resistência
Hoje seguimos em brasas!
Viva todas as mulheres
Nossa escrita nos deu asas!

 

(Julie Oliveira é escritora e palestrante)

É o sonho de todo escritor/a: participar como expositor/a de uma Bienal. Eu tinha acabado de lançar o meu livro de crônicas, Não Preciso Ser Fake, na Biblioteca Pública do Ceará, a BECE, e logo vi o post nas redes sociais sobre a Quadra Literária. Meu livro ficou do ladinho da obra do Mailson Furtado, meu povo! Que honra!

(Mailson Furtado, autor de “À Cidade”, ganhador do Prêmio Jabuti em 2018, na categoria poesia e também livro do ano e eu)

Também tive a grande oportunidade de expor, ao mesmo tempo, em outro stand, o Vozes do Ceará, um espaço lindo que reuniu autores independentes que comungaram a literatura lado a lado por dez dias seguidos. A missão era chamar a atenção dos passantes para as nossas obras. Um ajudava o outro. Fizemos muito barulho, tanto para sensibilizar o poder público sobre a importância de um espaço para os escritores independentes como para conquistar o público. Autor não deve ter pena de gastar sola de sapato. Agradeço aqui publicamente ao Wilson Júnior, professor e articulista literário, escritor engajado que levou todo mundo junto. Agradeço também ao Well Morais, que me fez entender que o escritor precisa oferecer sua obra. Ao lado dele, me sentia gigante. Ele conta que o sonho de participar da bienal é antigo. “A Bienal do Livro é uma oportunidade excepcional para nós, autores independentes, atrairmos novos leitores e divulgarmos nossas obras. O evento quebra a rotina do mercado literário e abre uma possibilidade de vendas fora do habitual. Além disso, representa uma chance ímpar de poder conversar pessoalmente com o público leitor, de autografar um livro e de registrar o momento nas redes sociais”, conta Well Morais, que durante vinte anos alimentou o sonho de expor suas obras na Bienal Internacional do Livro do Ceará.

(O leitor segura o livro do escritor Well Morais. Essa é uma de suas obras, A Rezadeira de Preto)

O Vozes, na verdade, se transformou em uma única voz, coletiva. Valeu, Wilson! Valeu, Well Morais!

Para esta edição, também haverá um espaço destinado a nós, independentes, será o Espaço da Palavra, especialmente projetado para valorizar a diversidade e a originalidade das obras independentes, com estandes personalizados e acessíveis. “A ideia é valorizar pequenas editoras, autores e autoras independentes prioritariamente residentes no Ceará, dando visibilidade às suas produções literárias, buscando um público ávido por novidades e contribuindo para o desenvolvimento cultural do estado do Ceará”, explica Maura Isidorio.

(Maura Isidório é orientadora da Célula de Livro, Leitura e Literatura (Celiv) e coordenadora de Formação, Livro e Leitura (CCFOL) da Secretaria da Cultura)

As curadoras Sarah Diva Ipiranga, nina rizzi, Amara Moira e Julie Trudruá Dorrico elaboram uma programação plural, inclusiva e enriquecedora, voltada para a valorização do livro e da literatura no Ceará.

Literatura e Infâncias, Juventudes, Oralidades, Ancestralidade, Literatura e Moda, Salão do Professor, Mestres e Mestras da Cultura e Praça do Cordel são alguns dos espaços que vão fazer parte do evento.

Entre os escritores já confirmados, Aline Bei, Socorro Acioli, Stenio Gardel, Jarid Arraes, Jeferson Tenório, Ana Miranda, Andrea del Fuego e Micheline Veruschk. A lista completa você confere no Instagram do evento: https://www.instagram.com/bienaldolivroce

Mirelle Costa: Mirelle Costa e Silva é jornalista, mestre em gestão de negócios e escritora. Atualmente é estrategista na área de comunicação e marketing. Possui experiência como professora na área de jornalismo para tevê e mídias eletrônicas. Já foi apresentadora, produtora, editora e repórter de tevê, além de colunista em jornal impresso. Possui premiações em comunicação, como o Prêmio Gandhi de Comunicação (2021) e Prêmio CBIC de Comunicação (2014). Autora do livro de crônicas Não Preciso ser Fake, lançado na biblioteca pública do Ceará, em 2022. Participou como expositora da Bienal Internacional do Livro no Ceará, em 2022.

Ver comentários (4)

  • Excelente texto de incentivo aos autores independentes e aos leitores para que conheçam a literatura de altíssimo nível que é produzida no Ceará.

  • Honrado de aparecer aqui! Você e Julião aguentaram as pontas lá com a gente até fim!!!

  • Adoro como você escreve, Mi! Parabéns por essa trajetória tão bonita e inpiradora! E obrigada por colocar nosso cordel aqui também! Abraços!

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