Com o título “A cidade planetária virtual”, eis artigo de Joaquim Cartaxo, arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae do Ceará. Para ele, a digitalização das atividades produtivas e a conectividade global vem contribuindo para a expansão de negócios entre empresas e clientes de forma descentralizada.
Confira:
Ao estudar a lógica atual do funcionamento das metrópoles, a professora Sandra Lencioni (2017) constata que, sob imposição de dividendos financeiros e imobiliários, a centralidade delas se estabelece “mais pela produção de serviços e pela produção imobiliária do que pela produção industrial, como foi no passado a história das mais importantes metrópoles do mundo”.
No âmbito digital, as funções sociais e produtivas das cidades organizam-se além de seus limites físicos, originando o conceito de cidade planetária virtual, ambiente onde a internet e as tecnologias digitais aproximam pessoas e organizações em uma rede de trocas comerciais, culturais e informacionais em tempo real.
A digitalização das atividades produtivas e a conectividade global contribuem para a expansão de negócios entre empresas e clientes de forma descentralizada. As relações de trabalho se alteram, tornando-se independentes da localização física de trabalhadores e empregadores.
Digitalizada, a vida cotidiana transforma as redes sociais em espaços de interações culturais, econômicas e de sociabilidade. Todavia, o acesso às tecnologias digitais ainda é desigual. Além disso, as interações on-line são mediadas por filtros algorítmicos que regulam informações; influenciam opiniões e comportamentos; reforçam a lógica de individualização, acumulação e centralização, aprofundando disparidades socioeconômicas presentes nas cidades concretas fisicamente.
Sob o ponto de vista ambiental, manter a infraestrutura digital exige vasto consumo de recursos naturais, sobretudo energéticos. São necessárias soluções sustentáveis para minimizar os prejuízos ambientais gerados por essa cidade cibernética em permanente e intensa expansão.
Esse espaço interconectado digitalmente expressa e intensifica as transformações do capitalismo, onde as características centrais – a concentração extrema de riqueza e a desigualdade socioeconômica generalizada – potencializam-se no ambiente virtual. Compreender essas dinâmicas é imprescindível para enfrentar esses desafios e um diferencial na luta por um desenvolvimento sustentável, que integre a cidade planetária virtual e as cidades físicas, criando um futuro que supere as injustiças do presente.
*Joaquim Cartaxo
Arquiteto urbanista e superintendente do Sebrae do Ceará.