Com o título “O Universo e o Ciclo da Vida”, eis artigo do professor Raimundo Costa Filho, presidente da Funcap e professor titular de Fisica da Universidade Federal do Ceará. “Embora o Big Bang explique muitas observações, como a expansão do Universo e a radiação cósmica de fundo, ela tem limitações”, expõe o articulista.
Confira:
Desde a antiguidade, a origem do Universo tem sido um tema de profundo fascínio e especulação. Aristóteles propôs a ideia de um universo eterno e imutável, uma visão que prevaleceu por séculos. Por outro lado, diversas tradições religiosas ao redor do mundo desenvolveram suas próprias narrativas, muitas vezes atribuindo a criação do cosmos a um ato divino. Somente com os avanços significativos na astronomia moderna e, mais tarde, com a emergência da teoria do Big Bang no século XX é que uma compreensão científica da origem do Universo começou a se formar. Nessa teoria o Universo teve início a partir de uma singularidade extremamente densa e quente, ocorrida há cerca de 13,8 bilhões de anos.
Mais especificamente, o conceito de um universo em expansão começou a ganhar força em 1927, com a teoria do “átomo primordial” proposta pelo padre e astrônomo belga Georges Lemaître. Dois anos depois, em 1929, Edwin Hubble fez descobertas cruciais, observando o afastamento das galáxias, um fenômeno que ficou conhecido como a Lei de Hubble, evidenciando assim a expansão do Universo. O termo “Big Bang” de fato surge apenas em 1947 devido a Fred Hoyle, contudo o termo demorou a entrar em uso. Foi somente em 1965 que a teoria recebeu um impulso significativo, quando Arno Penzias (falecido recentemente em 2024) e Robert Wilson descobriram acidentalmente a radiação cósmica de fundo que se propaga na frequência de micro-ondas. Este eco do Big Bang, disperso por todo o cosmos, serviu como uma forte evidência empírica, consolidando a explicação predominante para a origem do Universo.
Embora o Big Bang explique muitas observações, como a expansão do Universo e a radiação cósmica de fundo, ela tem limitações. Por exemplo, a teoria não explica o que causou o Big Bang, o que havia antes dele, ou por que as condições iniciais do Universo eram apropriadas. Dessa forma, modelos alternativos que buscam explicar a origem e evolução do Universo começaram a surgir. Duas figuras proeminentes neste campo são Neil Turok e Sir Roger Penrose. Turok, através do modelo ekpyrotic, propõe que o nosso Universo é o resultado de uma colisão entre duas membranas tridimensionais em um espaço-tempo de dimensões maiores. Essa colisão geraria um ciclo de criação e destruição (baseada na teoria de cordas). Já Penrose, em seu modelo cíclico conforme, sugere um Universo eterno em ciclos infinitos de expansão e colapso, seguido por uma nova expansão. Este modelo desafia a noção de um início único, propondo uma sequência de “eon”, cada um começando com um Big Bang próprio e terminando com um grande esfriamento.
O modelo de Penrose traz uma analogia inescapável com a existência humana marcada por ciclos: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Este ciclo de vida e morte é um eco das teorias cosmológicas, onde cada fim é também um começo. E assim, ao começarmos um novo ano, somos lembrados dessa perpetuidade de começar de novo, de construir novas memórias, experiências e possibilidades.
*Raimundo Costa
Presidente da Funcap e mestre e doutor em Física pela Universidade Federal do Ceará.