Com o título “A Colonização Digital a Bordo da IA”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e mestre em Informática pela Sorbonne University. “Apesar de seu potencial transformador, a maioria das pessoas, incluindo profissionais, políticos e líderes, ainda não compreendeu plenamente o impacto real dessa inovação e o quanto ela se diferencia das gerações anteriores de Inteligência Artificial (IA)”, expõe o articulista.
Confira:
A Inteligência Artificial (IA) Generativa, tecnologia por trás do ChatGPT e de concorrentes como Gemini, Claude e Llama, possui um potencial sem precedentes. No entanto, também carrega o risco de aprofundar desigualdades, especialmente em países com atraso em ciência, tecnologia e Inovação (CT&I) como o Brasil.
Apesar de seu potencial transformador, a maioria das pessoas, incluindo profissionais, políticos e líderes, ainda não compreendeu plenamente o impacto real dessa inovação e o quanto ela se diferencia das gerações anteriores de Inteligência Artificial (IA).
Estamos diante de uma revolução tecno-cognitiva capaz de reestruturar profundamente as bases econômicas e sociais dos países, com efeitos particularmente graves para aqueles que já enfrentam atrasos em ciência e tecnologia.
Embora seja a 9ª economia mundial, o Brasil ocupa a 89ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), refletindo o paradoxo de uma nação rica em recursos, mas “devagar quase parando” em inovação (CNPJ). Enquanto países que investem em CT&I avançam como “Ferraris do conhecimento”, colhendo qualidade de vida, o Brasil segue como um Fusca das commodities, preso à dependência tecnológica, o “fona” na pista global do IDH.
Estamos vivenciando a consolidação de uma nova forma de colonização global.
Para adquirir um celular tipo PP (“Peba Plus … rsrs”) de R$ 3 mil, são necessárias 10 sacas de soja ou 6 mil laranjas ou 60 kg de carne moída. Tirando impostos e logística, o grosso do dinheiro vai parar nos cofres do outro lado do mar.
Assim como nossos ancestrais se deixaram encantar por espelhos e miçangas, hoje somos os “novos indígenas”, hipnotizados por aplicativos reluzentes e dispositivos tecnológicos que prometem “facilitar nossas vidas”. Contudo, por trás dessa aparente utilidade, esconde-se uma nova e insidiosa forma de exploração cultural e econômica, que aprofunda nossa dependência e nos torna cada vez mais submissos às dinâmicas impostas por vieses e interesses externos.
A resposta a essa nova Colonização Digital passa, inevitavelmente, pela educação. As universidades deveriam assumir a liderança em uma “contrarrevolução tecnológica”. Um passo inicial poderia ser a implantação massiva de Tecnologia de Prompt (instrução que você dá à IA Generativa para ela entender o que você quer, simples assim) em todos os cursos, a exemplo dessa iniciativa do Centec no Pirambu Innovation, em 2024.
Isso não apenas mitiga os efeitos da Colonização Digital, mas também coloca o Brasil em posição de destaque no crescente mercado global de IA Generativa. Com isso, nossos jovens passam de simples consumidores passivos a usuários ativos dessa nova tecnologia disruptiva.
Paralelamente, é fundamental engajar lideranças empresariais, políticas e educacionais em discussões sobre os impactos da IA Generativa. Essas conversas precisam estar alinhadas a estratégias educacionais acima, criando uma frente unificada para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades para surfar nessa onda digital.
Seria irônico, não fosse trágico: a história insiste em se repetir.
Aux armes, citoyens! Formez vos bataillons!” Desta vez, as armas são o conhecimento e a inovação. Nossos batalhões serão desenvolvedores, cientistas, educadores, empreendedores etc., preparados para encarar os desafios do futuro com criatividade, determinação e a convicção de que é possível traçar um caminho sustentável e justo para todos.
Jovens, vocês são os arquitetos de um Brasil soberano e justo.
*Mauro Oliveira,
Professor do IFCE e mestre em Informática pela Sorbonne University.