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A complexa relação entre o poder e o Ego – Por Luiz Henrique Campos

Não pegou bem a indicação de Onélia Santana para ocupar a vaga no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Não quero aqui entrar no mérito da capacidade técnica, nem no discurso da nova direita, muito menos tratar sobre a isenção para julgar as contas de um governo no qual ainda está como secretária. No que diz respeito a competência, pulo essa parte, porque esse, talvez, seja o requisito a ser menos levado em conta, dado ao corpo funcional do órgão, que já deixa tudo pronto para o conselheiro só assinar.

Quanto aos questionamentos da nova direita, o discurso sempre foi de que a família vem em primeiro lugar, e são inequívocos os exemplos a partir do seu líder maior no país. Mas se quisermos trazer para a nossa aldeia Aldeota, temos a mulher de ex-deputado federal eleita usando o seu nome e seus votos; temos o pai de um deputado federal eleito da mesma forma para a Assembleia; e mais recentemente, vimos uma vereadora ser eleita usando o nome e boa parte da verba do partido presidido por seu marido, que é deputado estadual. Então, questionar o grau de parentesco na indicação de Onélia, não cola. Quanto a isenção de Onélia para julgar as contas de um governo ao qual serve hoje, do seu partido, e ligado a Camilo, alguém tem dúvida?

Mas quero tocar aqui no ponto diretamente ligado a Camilo Santana. É inegável que o ex-governador e atual gestor do MEC, é a maior liderança política hoje do Ceará. Liderança esta, construída com muita competência administrativa e habilidade política. Camilo já tem seu nome inscrito na história do nosso Estado. No entanto, o poder é também um exercício em que, na concepção de Foucault, “produz uma relação assimétrica que institui a autoridade e a obediência, e não como um objeto preexistente num soberano, que o usa para dominar seus súditos”. Na verdade, portanto, para que esse poder se concretize, é necessária a existência de uma rede de relações onde todos os indivíduos estão envolvidos, como geradores ou receptores, dando vida e movimento a essas relações.

Camilo conseguiu criar no seu entorno político essa rede que lhe assente uma força maior até que propriamente imagine ter. Veja, por exemplo, a aceitação ao nome de Onélia no Parlamento, e o resultado das eleições para as prefeituras, onde até mesmo onde o grupo hegemônico perdeu nas urnas, vimos em menos de 24 horas vários prefeitos se colocando ao lado do governador apoiado por Camilo e seu grupo político. Disso tudo, depreende-se um cenário em que temos uma oposição seu fôlego para as próximas disputas, mas ao mesmo tempo, a ampliação de um arco de apoio perigoso, porque a política nunca será uma ciência onde se possa prever os próximos passos, e já se viu em muitos casos como isso termina.

Camilo ousa ao indicar a esposa para um cargo onde ela irá ganhar hoje R$ 39 mil, por se sentir legitimado por essa assimetria tocada por Foucault, como se o poder fosse cego e mouco ao que pensa o ser humano comum. Poderia ter evitado esse desgaste que futuramente lhe marcará a biografia e lhe mostrará o dilema da complexidade própria das lideranças, de saber conciliar o poder com o Ego.

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