“Os partidos não se preocupem com a formação de quadros e com a sustentabilidade da filosofia que afirmam defender”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.
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Há poucos dias, em debate acadêmico liderado pelas professoras Leila Pires e Beatriz Mendonça, subordinado ao tema Perspectivas do Parlamento Contemporâneo, tive, na condição de aluno, oportunidade de expressar meu pensamento a respeito da crise por que passa o Parlamento e das dificuldades que enfrenta, urgindo arrostar obstáculos de toda a ordem para não somente proporcionar atendimento às demandas da sociedade, hoje grávida de tecnologias cada vez mais modernas, mas fazer-se respeitar pela população, a qual, por agora, tem-se comportado com indiferença em face de seus representantes, senão a apontar o dedo crítico em direção ao Legislativo em todos os níveis de representação federativa.
A mim me parece que a origem do problema precede a instituição parlamentar e reside no sistema partidário brasileiro, ideologicamente amorfo, uma mistura desordenada de interesses, alguns inconfessáveis, abrigados em agremiações, cujo número se eleva a cerca de três dezenas e que apesar – ou por causa – da quantidade, falece-lhes a qualificação necessária para a boa representação popular e o consequente empreendimento da estabilidade democrática. Por complemento, em sentido negativo, o eleitorado brasileiro, por temperamento e feitio, não se envolve em permanente ação política, não toma partido conscientemente, ensejando, destarte, a que os partidos não se preocupem com a formação de quadros e com a sustentabilidade da filosofia que afirmam defender. Como consequência desses descompassos, os partidos se reduzem a organizações que improvisam legislação diante de novas circunstâncias e são forçados a buscar apoio em todas as classes sociais, e até em segmentos marginais, para que possam sobreviver. O resultante dessa promiscuidade partidária que envia seus representantes aos Parlamentos, é a fragilidade ética da representatividade e a formação de grupos de poder sem compromisso com a democracia, mas pejados de interesses individuais ou de feição oligarca.
Os rótulos partidários são um engodo. Onde pode haver merecimento em um partido “liberal-conservador”? Ou é uma coisa ou outra. No caso brasileiro atual, o Partido Liberal é o que apresenta a mais ampla plataforma conservadora. Por pertinente, basta se observar as coligações/federações partidárias realizadas por agora para a disputa eleitoral que se avizinha. Partidos de longa história de conservadorismo alinhados formalmente com outros de histórica linhagem socialista e mesmo marxista revolucionária. Tudo isto com o beneplácito de uma legislação eleitoral deformada (não reformada) por parvas resoluções, a cada pleito.
Assim, pseudo-partidos que não exercem o mister político com base nos princípios que afirmam abraçar; que fazem concessões ao oportunismo, ao carreirismo e até ao aventureirismo de reconhecidos marginais da sociedade; que não abdicam do compadrio, do afilhadismo e do nepotismo nas fileiras partidárias cevadas por esdrúxula legislação que atufa os cofres partidários com um imoral fundo de seis bilhões de reais; assim, essa parafernália segue brincando de fazer democracia quando tudo não passa de demagogia. Demoniocracia seria neologismo mais apropriado à calamitosa situação.
Em face desse monstrengo que constitui o nosso sistema de congregações políticas, como poderá sair uma boa representação parlamentar de quadro partidário tão deprimente? Daí a grave crise por que passa o Parlamento brasileiro nos dias atuais.
Barros Alves é jornalista e poeta