“A educação do sentir semeia a paz” – Por Suzete Nocrato

Suzete Nocrato é jornalista e mestre em Comunicação Social da UFC. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “A educação do sentir semeia a paz”, eis artigo de Suzete Nocrato, jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará. “No Brasil, ainda preservamos a ideia de que a escola é um espaço de segurança, uma espécie de refúgio onde se estabelecem relações sociais, embora complexas e peculiares. Porém, essa premissa foi brutalmente desmentida na manhã do dia 25. Em Sobral, cidade reconhecida nacionalmente como referência em educação, dois adolescentes tiveram suas vidas interrompidas dentro de uma instituição, que deveria ser território sagrado, inviolável”, expõe a articulista.

Confira:

A violência acompanha persistentemente a humanidade ao longo dos séculos, numa dinâmica que varia conforme o contexto sociocultural, o tempo e o lugar. Hoje, no entanto, com o avanço da tecnologia e a disseminação das redes sociais, ela se amplificou, nos atravessando com uma sensação de insegurança constante.

No Brasil, ainda preservamos a ideia de que a escola é um espaço de segurança, uma espécie de refúgio onde se estabelecem relações sociais, embora complexas e peculiares. Porém, essa premissa foi brutalmente desmentida na manhã do dia 25. Em Sobral, cidade reconhecida nacionalmente como referência em educação, dois adolescentes tiveram suas vidas interrompidas dentro de uma instituição, que deveria ser território sagrado, inviolável.

Há quem, em discursos apressados e carregados de preconceito, negue a esses jovens até o direito de serem reconhecidos como vítimas, por supostamente estarem envolvidos com o consumo e venda de drogas. Esse tipo de argumento não é apenas cruel, mas distópico.

A desumanidade chega ao extremo de atribuir às vítimas a culpa por sua própria vulnerabilidade. Nessa lógica distorcida, os milhares de jovens cooptados por facções criminosas Brasil afora parecem merecer o destino de se tornarem apenas números sombrios de estatísticas. São punidos por aceitarem a ilusão de pertencimento oferecida por organizações criminosas que os aprisionam em um ciclo perverso de violência e marginalização, de difícil ruptura.

É insuportável perceber que o destino de um aluno possa ser determinado pela geografia da violência: ser alvo de facção criminosa por estudar em uma escola localizada em território dominado por uma facção rival ao que “manda” no bairro onde reside.

Essas mortes e tantas outras que nos atravessam pelas mídias tradicionais e sociais – como a de três adolescentes argentinas torturadas, mortas e esquartejadas em transmissão ao vivo, para que o horror servisse de “exemplo” – revelam que estamos mergulhados numa crise moral que precede o verdadeiro sentido de humanidade. Uma crise que entorpece nossa capacidade de indignação e de espanto diante de sonhos interrompidos de meninos e meninas que tinham diante de si uma vida para construir, errar, acertar… existir.

De igual modo, é essencial compreender que, paralelamente às ações governamentais de combate à desigualdade e de redução do fosso social por meio de políticas públicas efetivas, também somos convocados, individualmente, a assumir a parcela que nos cabe como seres humanos. Esse protagonismo se manifesta na capacidade de superar o egoísmo, no exercício da solidariedade, no respeito às diferenças, no cuidado com o meio ambiente e, sobretudo, na vivência plena e autêntica do amor.

Precisamos lembrar que a pacificação não virá apenas das estruturas políticas ou das forças de segurança. Ela começa na educação que ensina o sentir e não só o saber; a conviver e não apenas o competir.

*Suzete Nocrato

Jornalista e Mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

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