Com o título “A ‘especulação reversa’ está matando a Praia de Iracema”, eis artigo de Chico Gualbernei, atuante na publicidade, no empreendedorismo, morador e investidor imobiliário que concentra seus projetos nesse pedaço de Fortaleza. “A ausência de compromisso de muitos proprietários se tornou um gargalo que estrangula o potencial da região. Não há movimento. Não há vida nova. Há apenas a teimosia cega do prejuízo e do desinteresse, erguendo ruínas que são monumentos à oportunidade perdida e à omissão”, expõe o articulista.
Confira:
A Praia de Iracema, outrora o cartão-postal vibrante e coração cultural de Fortaleza, se tornou hoje um paradoxo. É um cenário onde a visão de progresso é sabotada pela inércia e pelo desprezo de grande parte de seus proprietários. Enquanto investimentos públicos e a efervescência cultural tentam reerguer a área, um fenômeno peculiar, que ouso denominar de “especulação imobiliária reversa”, parece amarrar o bairro a um passado de inércia e abandono, por escolha deliberada de muitos.
A crença comum é que a especulação imobiliária busca a valorização, o lucro pela ascensão do preço do metro quadrado. Mas na nossa querida PI, a realidade distorce violentamente essa premissa. Aqui, a Praia de Iracema grita para provar que essa “especulação imobiliária reversa” — essa “estratégia intencional” de não fazer nada ou de deixar definhar — não só existe, como se ergue como uma muralha intransponível contra seu próprio renascimento.
Assistimos a um cenário onde imóveis se deterioram, viram ruínas ou são relegados à condição de estacionamentos com vista para o mar. E o mais intrigante: seus proprietários, em uma demonstração de miopia econômica e social, preferem manter seus bens em um estado de decadência deliberada, recusando-se a investir ou a vendê-los, mesmo diante de um potencial latente. Essa paralisia não é apenas uma escolha financeira. É um câncer urbano que impede a geração de empregos, a atração de novos negócios, a segurança e a vitalidade cultural que a Praia de Iracema tanto necessita e merece.
Na última década, a Praia de Iracema foi palco de inúmeras intervenções exitosas: a orla foi reformada, ruas foram requalificadas, a icônica Ponte dos Ingleses foi entregue, o antigo São Pedro demolido e até mesmo o aquário ganhou um novo destino com o campos Iracema da UFC. Milhões de reais em dinheiro público foram investidos, uma aposta na ressurreição. Contudo, essa força propulsora esbarra na intransigência e no descaso do setor privado, mantendo o metro quadrado em uma estagnação inexplicável. O que impede o avanço é uma barreira invisível de egoísmo e falta de visão.
A ausência de compromisso de muitos proprietários se tornou um gargalo que estrangula o potencial da região. Não há movimento. Não há vida nova. Há apenas a teimosia cega do prejuízo e do desinteresse, erguendo ruínas que são monumentos à oportunidade perdida e à omissão.
Essa inação não é meramente uma questão de propriedade privada; é uma afronta à coletividade, um freio de mão puxado no desenvolvimento de toda uma cidade. A “especulação reversa” da Praia de Iracema não é um erro de cálculo, mas uma escolha que impede a cidade de prosperar, sufocando seu potencial turístico, cultural e econômico. É uma decisão consciente de aprisionar o futuro, de condenar um dos maiores ícones de Fortaleza à mediocridade. É hora de romper esse ciclo.
*Chico Gualbernei
Referência na Praia de Iracema, com trajetória marcante na publicidade e no empreendedorismo. Como morador e investidor imobiliário que concentra seus projetos no bairro, ele tem participado ativamente da regeneração urbana da região.