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“A esquerda depende de Lula. A direita quer se livrar de Bolsonaro”

Moisés Mendes é jornalista e escritor

“O cenário sem o inelegível problemático já está sendo montado, para que outros nomes tenham o caminho livre até 2026”, aponta o jornalista Moisés Mendes. Confira:

Uma perguntinha fácil, da primeira etapa de qualquer show do milhão: digam rápido quem é o candidato a prefeito de Bolsonaro, com alguma relevância na extrema direita, vencedor dessa eleição no primeiro turno ou habilitado a vencer a disputa no segundo. Quem responder, arranca ganhando R$ 500 mil.

Não há nomes da raiz e do tronco do bolsonarismo que possam ser expostos numa vitrine como vitórias pessoais de Bolsonaro. Mas há os que podem ser apresentados como derrotas.

Nem vamos citar, em respeito a quem nos lê, os nomes dos derrotados na primeira rodada e dos que não são tutelados por ele e ainda disputam o segundo turno pela direita. Todos sabem quem são eles, a maioria da velha e da nova direita que não dependem mais do sujeito.

Bolsonaro é um dos derrotados nas eleições municipais. Porque é falsa, é quase ingênua a tese segundo a qual o crescimento do PL deve ser atribuído a ele. Em 2022, com a expansão da bancada no Congresso, sim. Hoje, não mais.

O PL vencedor quer depender mais das bruxarias de Valdemar Costa Neto e até do espírito da velha Arena e menos de Bolsonaro. Assim como desejam todos os que caminharam da chamada direita ‘pragmática’ para a direita oportunista, que exacerba posições ditas morais e de costumes, a partir da ascensão de Bolsonaro e do absolutismo religioso da prosperidade e do dinheirismo.

Mesmo essa direita que se assumiu como ultra reacionária ou extremista não precisa mais de Bolsonaro para seguir em frente. Porque tem perspectiva de futuro com bons sucessores menos problemáticos.

Se fosse possível, mesmo em comparações forçadas, estabelecer semelhanças entre Bolsonaro e Lula, considerando-se a ideia da manutenção da polarização e do protagonismo de ambos, essa seria a conclusão: Bolsonaro sai avariado da eleição.

E Lula, apesar da performance ruim do PT, tem o poder de quem está no governo para provar que permanece muito vivo e maior do que seu partido e as esquerdas. Porque mesmo a direita absorvida pelo fascismo não depende mais de Bolsonaro, e as esquerdas ainda dependem muito de Lula, apesar dos grupos que ainda o esnobam e o depreciam.

A direita quer, na verdade, livrar-se de Bolsonaro, para que o caminho seja aberto a Tarcísio, Zema, Caiado, Ratinho, Michelle e, como uma espécie de Coringa acolhido até pela Faria Lima, ao ex-coach Pablo Marçal.

Até o ministro Paulo Haddad, por excesso de cordialidade, disse em entrevista essa semana à Folha de S. Paulo: “Se o Bolsonaro se reabilitar do ponto de vista eleitoral”, será ele o candidato natural da direita em 2026.

Valdemar Costa Neto diz coisa parecida, apesar de já ter insinuado que agora é a vez de Tarcísio e, depois de levar um puxão de orelha, ter revisado o que disse, colocando de novo Bolsonaro à frente de todos.

Mas Haddad, Valdemar e a estátua com os olhos vendados da Praça dos Três Poderes sabem que Bolsonaro já se entregou, quando ele mesmo disse que, se continuar inelegível, largará tudo e sairá de cena. Como se estivesse propondo um acordo prévio para redução de danos.

A cordialidade de Haddad, de um lado, e o medo de Valdemar com a base bolsonarista, do outro, são protocolares. Não têm a intenção de mexer no cenário que começa a se desenhar. Algum desses citados será o substituto de Bolsonaro em 2026.

É com isso que direita e extrema direita terão de lidar, com o fim de Bolsonaro, a partir da denúncia que será formulada pelo Ministério Público e pelo desejo de PL, PSD, PP, União Brasil, Republicanos e agregados de vê-lo como incômodo fora do jogo. É para esse cenário que também o PT e as esquerdas precisam se preparar.

Até porque uma segunda derrota de Bolsonaro para Lula teria efeito devastador na autoestima da velha e da nova direita, que saem fortalecidas dessa eleição e têm armas para tentar algo diferente e menos arriscado daqui a dois anos.

Mesmo que tudo pareça nebuloso e que o balanço de perdedores e vencedores de 2022 ainda esteja sendo feito, agora nos detalhamentos, um fato é mais do que detalhe: Bolsonaro, escondido pelos comparsas nas capitais e cidades médias no primeiro turno, está sendo empurrado para trás do biombo.

Lá ficará, a partir de novembro, à espera do que possa acontecer. Mesmo que, no curto prazo, não aconteça nada de mais grave com a volta à ativa do sistema de Justiça, Bolsonaro estará fora de cena, de catálogo e das preces da direita.

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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