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“A Esquerda em Estado de Coma”

João Arruda, professor aposentado da UFC e sociólogo. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “A Esquerda em Estado de Coma”, eis artigo de João Arruda, sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará. Ele analisa as lições que ficaram para a esquerda pós-eleições.

Confira:

É inquestionável a acachapante e constrangedora derrota do PT e dos seus puxadinhos – PSOL, PSB, PCdoB, PDT, REDE, PCO, PSTU, PCB, UP- nas últimas eleições municipais. Com esse resultado, como bem qualificou o jornalista Boris Casoy, a esquerda brasileira foi parar na UTI, e eu faço um adendo ao seu comentário, dizendo que o establishment brasileiro, notadamente a grande mídia e o STF, está em estado de pré-coma. E há algo que poderá aprofundar mais ainda esse quadro, colapsando o sistema: a vitória de Donald Trump.

E os resultados eleitorais não deixam espaços para dúvidas: dos 5570 municípios brasileiros, o partido do atual presidente conseguiu eleger apenas 252 prefeitos, sendo a quase totalidades deles em municípios inexpressivos, situados nos longínquos sertões nordestinos. Em sete Estados, o PT simplesmente desapareceu do mapa eleitoras, não conseguindo eleger um só prefeito. Comprovando o furacão que varreu o PT, nas 51 cidades com população acima de 200 mil habitantes, que são os municípios politicamente mais significativos, ele consegui vitória em apenas 6 municípios.

E o especrito político-ideológico deixado por essas eleições é muito claro e vem pré-configurando o que ocorrerá em 2026: a direita saiu vitoriosa em 2.673 prefeituras, o centro 2.144 e a esquerda em apenas 752. As disputas mais emblemática dessas eleições foram realizadas nas cidades de São Paulo e Porto Alegre, tendo os resultados sido catastróficos para as esquerdas. Em um episódio emblemático do derretimento político do presidente Lula, o seu genro, Danilo de Lula, candidato a prefeito em Barra dos Coqueiros, em Sergipe, apesar do seu empenho pessoal, terminou em terceiro lugar, com apenas 781 votos, ou 3,26% do total.

A pancada foi sentida e Lula, em um raro momento de sincericídio, coisa inabitual em sua conduta, reconheceu que o PT foi o grande derrotado nas eleições municipais. Em uma reunião com os seus ministros, logo após o primeiro turno, reconheceu, em tom de autocrítica, que a sua administração, após 20 meses de governo, não conseguiu entregar uma só realização significativa, não tendo cumprido nenhuma das suas promessas de campanha. Mas o Lula, sendo a figura que é, não assumiu a culpa do fracasso petista, preferindo atribuir o péssimo resultado eleitoral ao setor responsável pela comunicação do governo e a atual presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann.

Para a surpresa de muitos, a admissão da derrota foi amplamente reconhecida entre líderes da esquerda. Jessé de Souza, um dos principais ideólogos do PT, atribui a perda ao abandono das pautas anticapitalistas, estando pagando o preço pela sua defesa do politicamente correto, com a sua política identitária e todas as inconsequências da cultura Woke. Ele chama atenção para o fato das pautas identitárias ecoarem na classe média e na elite, não no pobre, jogada la nata do lixo, vítima do racismo cultural.

Quase na mesma linha de Jessé de Souza, Washington Quaquá, vice-presidente do PT, criticou a pauta petista argumentando que “o PT tem virado um partido que discute menos as questões econômicas e sociais e discute mais as pautas identitárias, como a ideologia de gênero, o racismo estrutural, etc”. Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário, disse que o PT deve ter uma pauta para os deserdados, deixando de lado a ideologia Woke e o identitarismo, agenda que só sensibiliza setores da pequena burguesia.

Mas, a leitura mais contundente dessa derrota foi feita por Rui Pimenta, presidente do PCO (Partido da Causa Operária). Em entrevista ao site petista 247, ele foi bastante categórico em sua avaliação, mostrando que o PT e a esquerda têm que fazer autocrítica com urgência. Segundo Rui Pimenta, “o grande vencedor das eleições foi o Bolsonaro… A esquerda precisa mudar urgentemente suas propostas e rever a sua forma de comunicação com a sociedade. O PT está diante da necessidade de mudança dos seus paradigmas”. E foi mais além: “A discussão que o pessoal fala, quem ganhou, quantas prefeitura, isto é relativamente irrelevante. O que é mais relevante é o número de votos e onde esses votos estão localizados. Nesse quesito aí, o Bolsonaro deu um banho extraordinário em toda a esquerda. Bolsonaro, sozinho, porque Bolsonaro não é toda a direita, toda a extrema direita. Só o PL do Bolsonaro limpou o chão com a esquerda. Se a gente somar tudo, todo o voto da esquerda não chega nem perto do voto do Bolsonaro”.

Há, porém, um erro ao considerar as pautas identitárias como as únicas responsáveis pela derrota eleitoral. Reconhecemos que elas são irritantes, insuportáveis, mas a esquerda tem que entender que o seu discurso tornou-se antiquado e desconectado das mudanças e tendências ocorridas nas estruturas produtivas e sociais. A esquerda não percebeu que o avanço tecnológico alterou substancialmente as relações sociais, tornando seus discursos e projetos vazios, obsoletos e anacrônicos.

Esses “ideólogos” insistem em não perceber que o elemento definidor da derrota repousa no cenário de grande insatisfação popular, que se consolidou com a má gestão, a corrupção e as políticas confiscatórias do presidente Lula. Que o seu fracasso eleitoral é o resultado direto de uma administração marcada pela ausência de um projeto político consistente, onde promessas de campanha não foram cumpridas e que a corrupção generalizada e a falta de transparência se tornaram características recorrentes dos governos petistas.

Parem de tergiversar!

O inoperante governo Lula foi o maior responsável por essa derrota, pois o seu desgoverno vem se caracterizando por sua inacreditável irresponsabilidade fiscal e pelo apagão em todos os setores sob a sua jurisdição. A anacrônica esquerda brasileira não pode negar que a população sofre com o apagão nas áreas da saúde, da segurança pública, do meio ambiente, da educação, da infraestrutura, da geopolítica e demais setores da administração federal, evidenciando uma gestão que priorizou interesses pessoais em detrimento das necessidades reais dos brasileiros.

Mas, além da ineficiência administrativa, a percepção da corrupção generalizada foi outro fator crucial na deterioração da imagem do partido governante e dos seus puxadinhos, afinal, a população já entendeu que falar em corrupção do governo petista é cometer um desnecessário pleonasmo, pois ela se encontra no seu DNA.

Além dos apagões administrativos, casos sucessivos de desvio de verbas públicas e escândalos envolvendo figuras-chave da administração minaram sobremaneira a confiança dos cidadãos. Essa prática recorrente, que drenou recursos destinados a áreas essenciais, contribuiu para a conscientização de que o governo Lula continua implementando políticas abjetas, indiferente com as políticas orientadas para os bens comuns, mas em benefício da companheirada e dos seus apaniguados.

*João Arruda,

Sociólogo e professor da Universidade Federal do Ceará.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (2)

  • Gente, este artigo é um diagnóstico com estudo de caso assinado pelo Doutor João Arruda
    Perfeito. 💚
    “… O inoperante governo Lula foi o maior responsável por essa derrota, pois o seu desgoverno vem se caracterizando por sua inacreditável irresponsabilidade fiscal e pelo apagão em todos os setores.”
    Este desgovernado tem o objetivo de trazer a Miséria moral, social e econômica. A missão de instalar um regime totalitário. Já estamos vivenciando a Ditadura da Toga.
    Contudo, o povo brasileiro está reagindo. E esta esmagadora derrota comprova o quanto somos um povo consciente.
    E não vejo a hora de ouvir aquele som e linha reta do aparelho que monitora o paciente em coma.
    Já aguardando o próximo artigo.
    E as eleições dos Estados Unidos.
    Alcione Pontes

  • Esclarecedor e contundente o exelente artigo do brilhante Profesor Dr João Arruda atuante e respeitado Homem de esquerda...Bravo

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