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“A fórmula da sorte”

Maurício Filizola é empresário e diretor do Sincofarma/CE

“O certo é que a prática tem criado uma verdadeira pandemia de vícios nessa modalidade de aposta. E o que começou como uma reles brincadeira agora arruína milhares de pessoas”, aponta o empresário Maurício Filizola.

Confira:

Que brasileiro adora jogo, isso todo mundo já sabe. De sinuca a futebol, a gente topa tudo, acha que é o melhor do mundo e acredita que a nossa natural malandragem nos favorecerá nas performances. E quando a disputa vem acompanhada de um convite para apostar, aí é que a gente não resiste.

Esse senso competitivo, misturado ao jeitinho brasileiro de sempre querer se dar bem na vida, de preferência, sem muito esforço, parece ter criado as condições perfeitas para a proliferação das Bets – as apostas on line – em nosso país. Une-se o útil (a paixão por jogar) ao agradável (a chance de ganhar uma boa grana sem trabalhar).

O certo é que a prática tem criado uma verdadeira pandemia de vícios nessa modalidade de aposta. E o que começou como uma reles brincadeira agora arruína milhares de pessoas, com as autoridades já encarando o fato como uma questão de saúde pública.

Um estudo da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostrou que 63% de quem aposta no país tiveram parte da renda comprometida com as Bets. Outros 19% pararam de fazer compras no mercado e 11% não gastaram mais com saúde e medicamentos. Ou seja: tem gente deixando de se cuidar para tentar a sorte nos jogos. E de se educar, também: uma pesquisa feita por instituições privadas de ensino superior concluiu que, em 2014, 35% dos interessados numa graduação desistiram dela para usar os recursos em apostas. 

O fenômeno atinge pobres e ricos, jovens e adultos, Lulistas e Bolsonaristas. Um relatório divulgado pelo Banco Central, na última terça-feira (24), revelou que beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em sites de apostas, somente no mês de agosto. O valor equivale a 21,2% dos recursos distribuídos pelo programa no mesmo mês.  A maioria dos apostadores tem entre 20 e 30 anos, e gasta cerca de R$ 100 por jogo. Este valor sobe de acordo com a idade. Brasileiros acima de 60 anos gastam uma média de R$ 3 mil reais nas apostas. E já são mais de 1,3 milhão de inadimplentes, em virtude de endividamento com a prática.

A prisão da influencer Deolane Bezerra, hoje já solta, e o envolvimento do cantor Gustavo Lima (que nem chegou a ser preso) como investidor de Bets, nos mostram duas realidades preocupantes: a qualidade dos ídolos que hoje inspiram nossas gerações e a constatação de que tem muita “gente fina” faturando com a nossa desgraça.

Até aí, nada de novo. 

Também não há nenhuma novidade na fórmula de prosperar na vida.

Esforço, estudo, trabalho e resiliência continuam sendo a melhor aposta.

Maurício Filizola é empresário e presidente do Sincofarma-CE

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