Com o título “A fuga do prefeito”, eis um contato de Francisco Caminha, escritor eex-deputado estadual.
Confira:
Naquela pequena bucólica e tradicional cidade do nosso sertão o prefeito fazia sua peregrinação casa a casa em busca de consolidar votos para reeleição. Essas visitas corpo a corpo fazem com que o eleitor se sinta mais honrado e usualmente o candidato conversa na cozinha para um café e até em um quarto como forma de acolhimento ao visitante.
Ele anunciou sua chegada no portão com palmas e foi entrando proferindo o nome da eleitora em voz alta:
– Joana posso entrar?
– Entra aí que estou aqui no quarto.
Fazia tempo que os dois não se viam, a conversa fluiu solta, ele sentado na beirada da cama e ela arrumando o guarda-roupa. As mulheres como se sabem usam os dois hemisférios do cérebro, por isso fazem duas coisas ao mesmo tempo.
Rememoram a época que namoraram e de repente os elétrons dos dois começam a vibrarem na mesma atração de outrora devido aos gatilhos das âncoras emocionais disparadas durante a conversa. Ou seja, rolou um clima, que foi quebrado pelo ronco do motor da moto da marido que chegou inesperadamente.
– Me Deus, meu esposo, ele não pode te ver aqui, morre de ciúmes. Na agonia, ele tentou se esconder debaixo da cama, mas era de alvenaria.
Ela ordenou: Entra no guarda-roupa que faço ele voltar logo para o trabalho.
O prefeito apavorado deu um jeito e em posição de contorcionista se acocorou dentro e rapidamente ela fechou a porta.
O marido estranhou a porta do quarto fechada e foi entrando para tomar um banho e voltar ao trabalho, mas antes abriu a porta do armário de roupa e flagrou o prefeito acuado e encolhido.
– Que porra é essa Toin, o que tu faz dentro do meu guarda-roupa.
O prefeito sentiu a energia da ameaça e firmemente disse:
– Meu amigo, você sabe que te amo, queria apenas te fazer uma surpresa porque sabia que tu tava chegando.
Não colou a resposta, e logo no primeiro tapa o alcaide fugiu correndo em disparada pela rua e o homem atrás dele destilando raiva com palavrões. Os populares viram a cena e a notícia se espalhou.
A história é verdadeira, mas o foclore popular acrescentou que o prefeito teria assinado um decreto municipal criando um programa de doação de camas de madeira para substituir as de alvenarias.
*Francisco Caminha
Escritor e ex-deputado estadual.