Com o título “A geopolítica de Trump”, eis artigo de Gilson Barbosa, jornalista e pesquisador. Ele analisa o governo Trump e seus impactos políticos para o mundo.
Confira:
Donald Trump, ainda antes de assumir a Presidência dos EUA, já provocou, com suas declarações polêmicas, as atenções do mundo. Há pouco, subvertendo a lógica e o equilíbrio das relações internacionais, construiu uma espécie de geopolítica pessoal. Nessa “geografia”, sugeriu a anexação do vizinho Canadá ao território norte-americano, podendo usar até a “força econômica” para provocar uma fusão, tendo sido imediatamente rebatido pelo primeiro-ministro daquela nação, Justin Trudeau, que enfatizou o orgulho dos canadenses por sua pátria. Disse ele que a provocação decorre do anúncio que Trump deverá fazer em breve, do aumento de 25% nas tarifas que imporá ao Canadá, México e China – por sinal, os maiores parceiros comerciais dos norte-americanos. O Canal do Panamá, inaugurado em 1914 e que ficou sob controle dos EUA até 1999, quando foi entregue ao controle exclusivo do governo panamenho, foi outro alvo citado por Trump. Ele disse que essa decisão “foi um grande erro” e que tem a intenção de retomar a administração da passagem marítima. De sua parte, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, já afirmou que “a devolução do canal é absolutamente inegociável”.
Continuando, o agora presidente atingiu a Dinamarca por conta da Groenlândia, maior ilha do mundo, rica em minérios estratégicos e parte do território dinamarquês. Declarou que considerará a aplicação de sanções econômicas contra a nação europeia, pois deseja controlar a Groenlândia, onde os EUA possuem uma base militar desde os anos 1950. A exemplo do que ocorreu em 2019, quando ele, em seu primeiro mandato, manifestou a mesma intenção, dizendo que seu país devia comprar a ilha, a Dinamarca mais uma vez declarou que não está vendendo seus territórios. Os
laços históricos que unem a Dinamarca à Groenlândia datam da primeira metade do século XVIII, quando, em 1721, uma expedição liderada pelo missionário norueguês com ascendência dinamarquesa, Hans Egede, iniciou um ciclo de colonização da ilha.
Por fim, em seus devaneios geopolíticos, Trump deseja mudar o nome do Golfo do México (que designa a região há mais de 400 anos), já constando com essa designação em mapas europeus do século XVI, para Golfo da América. Para isso, precisaria da aprovação dos governos do México e de Cuba, também banhados pelo golfo. A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, já rebateu a proposta, enfatizando que a denominação do golfo é reconhecida internacionalmente. E, mesmo que o faça de forma unilateral, renomeando-o como pretende, como se a região pertencesse somente aos EUA, certamente Trump não contará com o reconhecimento da maioria das nações do mundo.
Suas declarações apenas reproduzem a história de um país que adotou desde sua fundação, em 1776, uma política expansionista que, a ferro e fogo, por meio de guerras e da compra de territórios, estendeu suas fronteiras de leste a oeste da América do Norte. Exterminou tribos indígenas nativas e muitas vezes aproveitou-se da desorganização política de países como o vizinho México, ao qual tomou, por exemplo, áreas como o Texas e a Califórnia, dois de seus mais importantes Estados.
Como se vê, Trump promete novamente agitar o mundo, em sua segunda administração. Foi apenas o começo, como já se viu no dia de sua posse.
*Gilson Barbosa
Jornalista e pesquisador.