Com o título “A Gramática do Tarifaço”,eis arriyo de Paulo Slpídio de Menezes Neto, cientista político e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará.
Confira:
Para que se possa compreender a mecânica do tarifaço.
As medidas tributárias e intervencionistas foram anunciadas pelo governo americano há mais de um ano. Cobertas de alarde, ao estilo histriônico de Trump, assustaram o mundo, porém alegraram a militância.
Tratam-se, como se percebe, de medidas protecionistas internas para repor relações comerciais há longo tempo em desequilíbrio. Durante mais de duas décadas, muitas empresas norte-americanas instalaram-se na China para beneficiar-se de mão de obra barata, servindo-se dos mecanismos capitalistas de magnificação dos lucros em seu benefício. O lucro imediato os fez esquecer ou desconsiderar a desorganização por eles armada por cupidez e ganância.
As consequências internas, nos Estados Unidos, começaram a mostrar-se como uma estranha forma de autofagocitose, quando o monstro devora as suas próprias entranhas, as carnes da sua carne.
As tarifas fixadas pelo governo americano visam corrigir estes desequilíbrios e trazer de volta as empresas e as novas tecnologias desenvolvidas na China por americanos para casa… E criar empregos na América — para os naturais do lugar.
É o que o Brasil faz com a criação e a ampliação de impostos e suas políticas tributárias, forma de intervenção do Estado na Economia. Somos um modelo de país de vocação intervencionista. É da nossa índole. Não seria um governo populista, “soi disant” socialista, progressista, que iria mudar por mero capricho as nossas práticas comerciais…
Temos o direito de intervir no mercado e na formação dos preços para assegurar equilíbrio saudável do nosso mercado externo e das contas da nação. Não interferimos na soberania de países que negociam conosco ao adotarmos políticas de regulação dos nossos negócios de exportação e importação ou fomentarmos a produção com renúncia tributária — ou elevá-las com tributação redobrada…
Assim ocorre com outros países. Muitas nações já não trilham os caminhos de uma economia de mercado, mas seguem as regras dos seus parceiros de livre comércio.
O erro de difícil conserto, cometido por Trump, reside justamente nesta mixagem indecorosa entre a política e a economia. Entre impulsos ideológicos e o comércio internacional. Entre um personagem político que luta pela sobrevivência eleitoral e a revisão de taxas do comércio exterior. Cada coisa a seu tempo.
No mais, tempo houve para posturas sensatas de negociação entre Brasil e EUA. Preferimos, entretanto, trabalhar sobre os dividendos eleitorais que mais haveriam de valer em favor do governo atual. Empunhanos as armas da dialética, carregados de metáforas, e partimos para o confronto.
Na queda-de-braços entre medidas protecionistas e a proximidade das eleições de 2026, o olhar populista do governo brasileiro voltou-se e mirou a oportunidade de criar inimigos úteis, internamente, os discordantes; externamente, o império capitalista a ser destruído com a cumplicidade de Xin Jinping.
Parece que a estratégia funcionou. O patriotismo e a luta em defesa da soberania ameaçada são argumentos decisivos para muitos brasileiros. O exercício patriótico do qual os governos não podem sobreviver.
*Paulo Elpídio de Menezes Neto
Cientista Político e ex-reitor da Universidade Federal do Ceará.