Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

“A História pelo Avesso”

Carlos é professor de Literatura e escritor. Foto: Arquvio Pessoal

Com o título “A História pelo Avesso”, eis artigo de Calos Gildemar Pontes, professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutor e mestre em Letras pela UERN e membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL).

Parece que é comum, hoje em dia, assistirmos melancolicamente à derrocada dos poderes constituídos como se fosse uma coisa natural. Escândalos se sobrepõem em todos os governos. Trocar de ministro no governo federal ou de secretário nos governos estaduais e municipais é apenas um ato a mais para satisfazer a sanha devoradora dos partidos.

Que tal e qual ocupante de pasta seja militante de partido governista ou aliado e, por mais que o militante desse partido seja corrupto no seu exercício particular de poder, ao trocá-lo por outro, o governante tenta equacionar as ações, escolhendo outro integrante do mesmo partido, exercendo a velha fórmula de trocar seis por meia dúzia. Vemos isso claramente nas indicações de secretários das prefeituras, recém empossadas com seus novos gestores. Isso é tão comum que já não espanta mais o eleitor comum.

Houve um tempo em que ser comunista era ser ético, lutar por um mundo justo, sob a ditadura do proletariado para alcançar uma sociedade “perfeita” etc. Nem sempre isso foi verdade, mas os antigos comunistas, hoje no poder, têm dificuldade em pôr em práticas as lições mais elementares do governar em comunhão. Nas Assembléias e Câmaras de Vereadores o que se vê é nepotismo, roubo, desmandos de toda ordem, até mesmo perversão sexual, caso não só de imoralidade pública, de atentado à família, mas de polícia.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, Assembleias estaduais e Câmaras municipais recebem diariamente denúncias de maus tratos e desrespeito à vida de pessoas e de animais. E, quando descobrimos que os culpados estão por trás de algum cargo público e sob a proteção do corporativismo mais cruel do Estado, vem-nos a sensação de impunidade. A privação e aniquilamento do cidadão é o que menos importa para esses crápulas que se ordenham nas tetas do erário.

Nesses dias, vão ter que refazer os livros didáticos e reescrever a história política do Brasil, ensinando que explorar é o certo, enganar é uma prática e punir com a miséria é dever do Estado e direito do cidadão. O que nos resta então a fazer? Como vencer uma relação tão desigual? Como aceder aos direitos elementares para viver modestamente, quando uma minoria vive a esbanjar os nossos impostos como se fossem donos da chave do cofre e nós, bestas, a carregarmos nossas dívidas e obrigações como fardos pesados até para animais de carga?

Tomara que os nossos netos e quiçá filhos, que estão na escola para vivenciar uma educação completamente distinta da realidade, possam realmente aprender as lições dos grandes humanistas. Fora disto, mesmo que nós nos esforcemos para dar o melhor da nossa inteligência para instruí-los, restarão os maus políticos e os maus cidadãos para combater.

Aí, precisaremos muito mais do que vontade, será preciso desafiar os guardiões da ética e do caráter, para que saiam das suas razões no conforto dos seus lares e venham cerrar fileira pelo bem dos que querem um mundo realmente diferente deste que aí está. Caso contrário, se escaparmos depois do caos, talvez venham ajudar a juntar os cacos da história a reescrevê-la pelo avesso, porque então será tarde, nós teremos perdido essa parada.

*Carlos Gildemar Pontes

Professor de Literatura da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), doutor e mestre em Letras pela UERN e membro da Academia Cajazeirense de Artes e Letras (ACAL). Foi traduzido para o espanhol e publicado em Cuba nas Revistas Bohemia e Antenas. Contato: gilpoeta@yahoo.it

COMPARTILHE:
Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Email
Mais Notícias