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“A Igreja Católica e cultura gay”

Barros Alves é jornalista e poeta

“A Igreja, pela voz do seu Pastor maior aqui na Terra, prefere alinhar-se ao mundo, conflitando-se com o apóstolo Paulo”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves. Confira:

De logo julgo importante observar que minha abordagem do tema se faz assentada na doutrina e no magistério da Igreja Católica Apostólica Romana. Todavia, quero crer que várias outras formas de manifestação do Cristianismo assinam embaixo do que segue, no respeitante à crítica que estou a registrar neste e noutros artigos que deverão vir à lume, porque o tema é tão polêmico quanto abrangente.

No dia 28 de maio passado os jornais de todo o mundo estamparam manchetes em tom acusatório contra o Papa Francisco, que teria dito em reunião privada com bispos, a propósito de abertura para a admissão de homossexuais em seminários e escolas de formação de futuros padres, que “já há muita viadagem – “frociaginne” – nesses locais…” O mundo veio abaixo e a pressão dos grupos de interesse profano, muitos incrustados na própria cúpula vaticana, levou a que o pontífice pedisse desculpas, depois de haver sido “denunciado” nos meios de comunicação. Em primeiro lugar, o Papa não cometeu nenhum crime, porque a liberdade de expressão é intrínseca da democracia em todo o mundo civilizado. Em segundo, se não há crime a denúncia é vazia. E, finalmente, Francisco, que se tem desviado recorrentemente dos valores essenciais da Igreja Católica da qual é o pastor máximo; e do próprio Evangelho, quando dá declarações (ainda que não “ex cátedra”) alinhadas com o modismo identitarista e “politicamente correto”, não tem do que pedir desculpas, posto que ao criticar a “viadagem” nas escolas de formação eclesiástica, está tão-somente fazendo uma constatação de um fato escabroso por todos conhecido e admoestando de acordo com os preceitos mais elementares do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos ensinos bíblicos, da doutrina e do magistério da Igreja Católica. Cito como exemplo apenas uma alocução do Apóstolo Paulo que está na Carta aos Coríntios: “Acaso não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis; nem fornicadores, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbedos, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. (cap. 6, vers. 9 e 10).

A constatação de que os seminários e, consequentemente a Igreja do Cristo, foram contaminados pelo mundo de forma avassaladora, depois do tal “aggiornamento” definido nos documentos do malsinado Concílio Vaticano II, não é de agora. São Paulo VI, então o Papa que encerrou o Concílio, chamou a atenção de forma profética para o perigo da “fumaça de satanás” entrar pelas frestas da Igreja, caso não houvesse um cuidado especial na condução das ações pastorais pós-conciliares. Diante do depauperamento ético, moral e intelectual das lideranças da Igreja, sobretudo como consequência da frouxidão na formação dos sacerdotes, constata-se uma dolorosa realidade que dá razão às preocupações de São Paulo VI, bem como de outros eminentes padres conciliares. Se não há uma adequada formação do sacerdote, a Igreja vai “oferecer aos outros uma mercadoria adulterada”, consoante a oportuna lembrança do Padre Neri Feitosa, pastor de impecável formação teológica, segundo o qual, “para tudo na missão do Reino de Deus é preciso formação suficiente para a reta inteligência do encargo.” (Cf. “Formação dos Futuros Sacerdotes Hoje”, edição do autor, Canindé-CE, 2019, pág. 5).

O fato é que meio mundo de pessoas que se dizem cristãs, em especial sacerdotes e religiosos, aplaudem os desvios do Papa Francisco quando ele recebe silentemente das mãos de um chefe de Estado marxista uma imagem de Jesus Cristo pregada na foice e no martelo, símbolo do comunismo ateu; regozijam com as intervenções magisteriais em Encíclicas de conteúdo duvidoso como a “Laudato Si” e a “Amores Laetitia”; porém, apedrejam o Papa no momento em que ele faz uma declaração apropriada, só porque tal declaração desagrada valores mundanos. Muito estranha essa posição dos cristãos, ainda que não cause surpresa em face dos desmantelos do mundo nos dias que correm em que cada vez mais a sociedade se distancia do Evangelho e mergulha no processo de neopaganismo, que vai de encontro a tudo o que tem proposto o Cristianismo ao longo da História. A Igreja, pela voz do seu Pastor maior aqui na Terra, prefere alinhar-se ao mundo, conflitando-se com o apóstolo Paulo, que escreveu: “E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Carta aos Romanos 12.2).

Submissos aos valores temporais, exatamente pela má formação teológica, uma grande maioria dos sacerdotes, submissa a um relativismo adoentado de modernidades que não se coadunam com os dogmas do Cristianismo (sobretudo da Igreja Católica) sente-se constrangida em orientar, admoestar, censurar, repreender e mesmo punir, se for o caso. Vale lembrar, por oportuno e pertinente, o apelo que faz o Santo Padre Bento XVI, reclamando coragem dos cristãos diante da tempestade: “Talvez os homens possam perceber que contra a ideologia da banalidade, que domina o mundo, é necessária uma oposição, e que a Igreja possa ser moderna justamente sendo antimoderna, opondo-se ao que todos dizem. À Igreja cabe o papel de oposição profética, e ela precisa ter a coragem de assumir esse papel.” (Cf. “BENTO XVI – Questões de Fé, Ética e Pensamento na Obra de Joseph Ratzinger”, org. Dag Tessore. Editora Claridade, SP, 2005, pág. 24). Aos cristãos, pois, compete rejeitar esses cristianismos adaptáveis que se metamorfoseiam de acordo com as vontades do mundo anticristão. Portanto, não há como aprovar aproximações entre a cultura cristã e a cultura gay, sem, no entanto, deixar de acolher para a conversão o indivíduo. Repito: acolher o indivíduo para a conversão, sem a qual não poderá haver inclusão no Reino de Deus, segundo deixou bem claro o Apóstolo Paulo.

Barros Alves é jornalista e poeta

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