“A Invenção da Inteligência Artificial será mais importante quew a da escrita?” – Por Francisco Neto

Francisco Neto é professor universitário e psicanalista. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “A Invenção da Inteligência Artificial será mais importante quew a da escrita?”, eis artigo de Francisco Neto Pereira Pinto, professor universitário, escritor e psicanalista.

Confira:

Invenção mais impactante que a escrita?

A escrita transformou profundamente a humanidade, permitindo a preservação e a transmissão do conhecimento ao longo dos séculos. No entanto, a inteligência artificial -IA surge como uma invenção com potencial de superar esse impacto. O filósofo francês Michel Serres, em A Polegarzinha, comparou a revolução da informática à da escrita e da imprensa, ressaltando que seu efeito sobre a educação ainda não foi totalmente mensurado.

Antes da internet, computadores e celulares, o conhecimento estava nos livros e na memória dos professores, que eram os principais porta-vozes do saber. Porém, depois da revolução da informática, um estudante com um smartphone pode acessar instantaneamente uma biblioteca global, algo impossível para qualquer mente humana individual. No entanto, Yuval Harari, em Nexus: Uma Breve História das Redes de Informação, da Idade da Pedra à Inteligência Artificial, sugere que a IA pode ser uma inovação mais significativa que o telégrafo, a imprensa e até mesmo a própria escrita.

Por sua vez, Laurent Alexandre, em A Guerra das Inteligências na Era do ChatGPT, afirma categoricamente que a escola, como existe hoje, está fadada a desaparecer. O que resta definir é se essa transição será gradual ou dolorosa. Por mais que sua profecia não se cumpra na totalidade, pelo menos duas grandes tendências é possível que se desenhem no curto prazo, sendo uma positiva e outra negativa.

As Duas Tendências para a Educação

Impacto Positivo – A IA tem o potencial de tornar a educação menos conteudista e mais centrada na formação crítica e autoral dos alunos. Um estudo em sala de aula de Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, pode encontrar na IA formas de se obter respostas rápidas e embasadas sobre biografia do autor, contexto histórico de produção e recepção critica de especialistas e do grande público leitor, tudo isso organizado em diferentes camadas de profundidade e complexidade. Assim, em vez de ser enviados a mídias dispersas pela internet, o próprio chat oferece respostas prontas e em fração se segundos. Dessa forma, o papel do professor não desaparece, mas se torna ainda mais importante na orientação do pensamento crítico e na construção de uma posição autoral por parte dos alunos.

Aprofundamento da Desigualdade – Por outro lado, como Luc Ferry aponta em A Revolução Transumanista, o avanço tecnológico tem potencial de engrossar a fila dos excluídos pela revolução tecnológica, chamada por ele de NBIC, que inclui a inteligência educação. Do ponto de vista educacional, as instituições de ensino mais preparadas e com acesso a IA terão um salto qualitativo, enquanto escolas sem infraestrutura tecnológica poderão ficar para trás, ampliando o fosso entre elites e os menos favorecidos. Além disso, muitos educadores ainda veem a IA como um tabu, uma moda passageira ou uma ameaça, o que dificulta sua integração no ensino.

A Educação Frente à IA

Diante desse novo cenário, a única certeza é que a IA é uma realidade sem volta. Esperar, porém, que os educadores carreguem em seus ombros o peso dessa transformação, como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade, seria injusto e desonesta. No entanto, é essencial que todos se familiarizem com essa tecnologia e determinem seus usos da forma mais responsável possível.

Mais do que nunca, desenvolver o pensamento crítico e a autoria dos alunos será indispensável. Afinal, num mundo em que as respostas podem ser geradas instantaneamente por IA, uma educação verdadeiramente cidadã emancipadora e à altura dos novos tempos não será baseada apenas no acúmulo de informações, mas sim na capacidade de interpretar, questionar e criar conhecimentoque ateste a assinatura de cada um.

O desafio está posto: ignorar essa revolução pode aprofundar desigualdades e limitar oportunidades. Integrá-la de forma inventiva e responsável, por outro lado, pode transformar a educação em uma ferramenta ainda mais poderosa para o futuro não somente das gerações de agora, mas também daquelas que ainda virão.

*Francisco Neto Pereira Pinto

Professor universitário, escritor e psicanalista. Doutor em Ensino de Língua e Literatura e autor de “À beira do Araguaia”.

Instagram: @francisconetopereirapinto

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