“A juventude e o fim do pacto trabalhista” – Por Cleyton Monte

Cleyton Monte é pesquisador e também diretor do Instituto Centec. Foto; Arquivo Pessoal

Com o título “A juventude e o fim do pacto trabalhista”, eis artigo de Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec. “O que está em jogo é a redefinição do valor do trabalho na vida social. A juventude não está dizendo que o trabalho não importa. Está dizendo que ele precisa fazer sentido. E, para isso, não basta uma carteira assinada. É preciso reconfigurar o trabalho como espaço de criação, autonomia e dignidade.”, expõe o articulista.

Confira:

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), criada em 1943 durante o governo de Getúlio Vargas, representou, por décadas, o eixo central de um pacto trabalhista que reconhecia o trabalho como base da construção social brasileira. Em um país forjado por profundas desigualdades, a CLT emergiu como símbolo de civilidade e amparo institucional, assegurando direitos que estruturaram a cidadania do trabalhador. Contudo, passados mais de 80 anos, essa mesma CLT passa a ser confrontada por uma juventude que a rejeita não apenas como norma jurídica, mas como projeto de futuro.

Dados recentes revelam uma queda acentuada na ocupação formal entre jovens de 18 a 24 anos. Há cada vez mais um descompasso geracional que não pode ser ignorado. De um lado, jovens mais escolarizados, hiperconectados e culturalmente globalizados. De outro, um modelo de trabalho que se mostra arcaico, excludente e pouco atrativo. Entre esses dois polos, instala-se um sentimento difuso de inadequação: o mundo do trabalho formal não entrega o que promete – e, por isso, é recusado. A CLT, antes vista como conquista, agora aparece como um símbolo de um mundo que não se atualizou. Não se trata aqui de romantizar o passado ou de defender a CLT como um fetiche legal. Trata-se de reconhecer que seu esvaziamento simbólico – diante da precarização real – tem produzido um hiato perigoso entre juventude e projeto nacional. Abandonar esse pacto – sem propor outro – é abrir espaço para a desproteção, informalidade agressiva e adoecimento silencioso de uma geração inteira.

O que está em jogo é a redefinição do valor do trabalho na vida social. A juventude não está dizendo que o trabalho não importa. Está dizendo que ele precisa fazer sentido. E, para isso, não basta uma carteira assinada. É preciso reconfigurar o trabalho como espaço de criação, autonomia e dignidade. Enquanto o país seguir oscilando entre reformas que desmontam o Estado e narrativas que individualizam o fracasso, veremos crescer uma juventude que rejeita o que não entende – ou o que não a protege. Reverter esse quadro exigeescuta ativa, reconstrução institucional e coragem para propor um novo pacto geracional. Porque o futuro do trabalho terá de nascer do diálogo entre direitos históricos e novas formas de viver. E disso, a juventude não abre mão.

*Cleyton Monte

Cientista político, professor universitário, pesquisador e presidente do Instituto Centec.

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