Com o título ” A linguagem do corpo”, eis artigo de Zenilce Burno, psicóloga esexóloga. “Por mais que aprendamos sobre a sexualidade, suas disfunções e suas curas, teremos de olhar com singularidade a engrenagem de cada individuo”, expõe a articulista.
Confira:
No dia 4 de setembro celebrou-se o Dia Mundial da Saúde Sexual, definido por Saúde Sexual o estado físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade, não se tratando apenas da ausência de doença ou disfunção. Ela requer assim uma abordagem positiva da sexualidade e das relações sexuais, permitindo obter prazer ao mesmo tempo que se vive uma experiência sexual segura e livre de discriminação.
Aprendemos sobre nós e nossa sexualidade desde a infância, desde os primórdios do contato com o corpo dos adultos. Desde os primórdios do existir humano somos abertos e sensíveis ao que nos cerca. A ruptura da simbiose uterina e a liberação do grito primal foram aventuras necessárias, condições imprescindíveis a partir das quais nos ligamos ao meio externo. A partir de então, os canais sensoriais vão registrando, inscrevendo em nossa psiquê, as pegadas da vida, os gestos, dores e emoções do cotidiano de cada um.
Palavras, atitudes, expressões, sensações, emoções, tudo vai sendo captado, armazenado, introjetado pelo bebê, que como uma esponja absorve tudo o que lhe toca a superficie. A sexualidade da criança revela-se em seu contexto infantil, na experiência de um prazer sem consciência, ainda, do sentido, mas fazendo um registro profundo de sensações que a memória do corpo não esquece, Isso alicerça uma espécie de certeza de “algo bom”, ou de “algo negativo”, que se cola à pele e a torna responsiva ou não ao toque, ao afago, à carícia.
Por mais que aprendamos sobre a sexualidade, suas disfunções e suas curas, teremos de olhar com singularidade a engrenagem de cada individuo. Teremos de ajudar a desmontar seu próprio desejo, para compreender onde se deu o nó que o impede de ser e acontecer. A disfunção sexual procede muitas vezes do caminho que vai sendo traçado pelo indivíduo em sua história, em sua estruturação da pessoa que é.
Nessa trajetória, quase sempre, ele sacrifica aspectos de si mesmo, emoções, valores, atitudes, em atendimento as exigências educacionais, culturais e outras que impedem a inteireza que aqui postulo. Outras vezes, a disfunção sexual pode funcionar como sinal, como a busca de algo mais realizador e mais bonito. Entendo que as disfunções sexuais podem ser vistas como metapatologias, no sentido que elas expressam uma desarmonia que atinge o todo da pessoa, e não apenas o funcionamento da genitália.
A grandeza do sexo está nessa vivência, em meio aos projetos de felicidade humana, em parceria amorosa e não apenas com fins procriativos ou numa busca mecánica de um prazer simplista. O ser humano não se reduz às suas necessidades e, no terreno da sexualidade, ele supera a ordem estabelecida pelo orgânico. Ele inventa, cria a cada instante seu modo de ser prazeroso, seu gosto e expressão sexual.
*Zenilce Bruno
Psicóloga e sexóloga.