Com o titulo “A Palavra sem Medo”, eis artigo de Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador. Um pouco da história politica do Cariri, num livro que o articulista vem finalizando.
A voz do MDB que desafiou ditadura e elites no Crato dos anos 70
Confira:
Eudoro Santana era presidente do Diretório Municipal do MDB em Juazeiro do Norte no início dos Anos 1970. Jósio de Alencar Araripe presidia o diretório do MDB no Crato. Os dois fundaram o partido em suas cidades. Juntos, percorreram o Cariri para fundar representações legais da sigla nos municípios.
A estratégia política do partido de oposição na região Sul do Ceará é uma das histórias contadas no livro “Jósio de Alencar Araripe – A Palavra sem Medo”. Dois terços da obra reproduzem as crônicas de sua autoria, lidas na Rádio Educadora do Cariri, na voz do jornalista Antonio Vicelmo, no programa homônimo, nos anos 1971 a 1975.
A transmissão diária das crônicas na emissora dava expressão a um movimento de oposição às elites conservadoras e à ditadura militar no Crato. Era a voz coletiva do grupo, que se opunha à Arena, o partido da ditadura militar, que então mandava na política do Crato e do Ceará.
Nesta luta do pequeno contra o grande, Jósio conseguiu se eleger vereador do Crato e Eudoro deputado estadual. Quando Tasso Jereissati assumiu o primeiro governo, em 1987, Eudoro foi nomeado secretário da Agricultura e Reforma Agrária e Jósio presidente da Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa), indicado por Eudoro.
A seguir, transcrevo um trecho do livro que será lançado no dia 22 de julho no Crato, no Instituto Cultural do Cariri, no centenário do seu nascimento;
Ética na Ceasa, o preço da intransigência
“Na presidência da Ceasa, Jósio Araripe teve de abrir sindicância e processo administrativo para apurar desvio funcional de um servidor que exercia cargo de diretor técnico da Companhia, indicado por político. Quem relata o episódio é o advogado Leopoldo Martins Filho, então chefe do Sistema Nacional de Informação Agrícola (SIMA), que atuou como principal assessor da administração e pessoa de confiança do presidente.
“A Ceasa CE tinha os cargos rateados por políticos da época, enormes vícios de ordem administrativa que dificultavam o processo de seu desenvolvimento e o bem-estar dos produtores e hortigranjeiros”, afirma Leopoldo Martins. O advogado lembra que teve de presidir a comissão administrativa da Ceasa que apurou este caso suspeito, “em decorrência do corporativismo entre alguns servidores com cargos de confiança” na Companhia, que se negavam a dar o nome para compor a lista de investigação.
“Como o relatório do processo administrativo apontou desvios funcionais, o presidente da Ceasa não atendeu às pressões do secretário Sérgio Machado para abrandar as medidas diante da constatação de desvios. “Jósio era muito íntegro e não atendeu à pressão. Acredito que a demissão tenha sido por esse motivo”, disse Leopoldo Martins Filho. No episódio, ele também deixou a Ceasa, junto com Jósio.
Talvez seja por este caso – intransigência com desvio funcional – que o nome de Jósio Araripe, hoje, na galeria de ex-presidentes e no site da Ceasa, figure como Jósio Araújo. Uma atitude mesquinha de vingança do corporativismo contra um gestor que soube honrar o sobrenome Araripe, a coisa pública e o nome da Ceasa no período em que presidiu a Companhia”.
*Flamínio Araripe
Jornalista e pesquisador.
O livro tem prefácio de Carlos Rafael e depoimentos de Antônio Vicelmo, Eudoro Santana, Samuel Araripe, Rosemberg Cariry, Alemberg Quindins e Emerson Monteiro. A obra, quase 500 páginas já diagramadas, chega à gráfica este mês e está em promoção com venda antecipada por R$ 80 + 10 (frete). Contatos por WhatsApp 85 99615-1449 ou e-mail
flaminio.a@gmail.com.