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“A pandemia passou. Mas, e as lições ficaram?” – Por Cláudia Albuquerque Lordão

Cláudia de Albuquerque Lordão é mestra em Políticas Públicas e Cerimonialista da UFC. Foto: Arquivo Pessoal.

Com o título “A pandemia passou. Mas, e as lições ficaram?”, eis artigo de Cláudia Albuquerque Lordão, mestra em Políticas Públicas e Cerimonialista da UFC. “(…) ao observar o que se seguiu após esse período tão difícil, percebo, com tristeza, que muitas dessas lições se perderam pelo caminho. Em vez de mais união, vejo amargura. Em vez de mais empatia, vejo egoísmo e individualismo. É como se parte da humanidade tivesse endurecido o coração”, expõe aarticulista.

Confira:

Durante a pandemia, eu realmente acreditei que as pessoas haviam entendido uma lição profunda: de nada adiantava a fortuna acumulada, o carro caríssimo parado na garagem ou a bolsa de marca esquecida no armário. Não podíamos sair de casa, nem ostentar prestígio, conquistas ou poder. Estávamos todos confinados, o mundo inteiro vivendo a mesma experiência ao mesmo tempo. Foi, talvez, a única vez, desde a criação, que a Terra parou, que todos, ricos, pobres, famosos ou anônimos, se viram na mesma condição.

Naquele silêncio imposto, pensei que o ser humano sairia transformado. Mesmo em meio à dor da perda de entes queridos, a pandemia nos mostrou o que realmente vale na vida: o amor, a empatia, a fé que sustentou tantas pessoas quando as forças pareciam acabar. Mostrou a importância da solidariedade, do abraço sincero de um amigo, mesmo que fosse apenas simbólico, de longe, mas ainda assim aquecendo o coração. Quantos sorrisos nasceram de uma simples chamada de vídeo? Quantas pessoas que moravam sob o mesmo teto, mas viviam distantes na correria do cotidiano, reencontraram-se na convivência forçada? Relações foram resgatadas, histórias retomadas. O mundo parecia ter recebido uma chance rara de se reconectar com o essencial.

No entanto, ao observar o que se seguiu após esse período tão difícil, percebo, com tristeza, que muitas dessas lições se perderam pelo caminho. Em vez de mais união, vejo amargura. Em vez de mais empatia, vejo egoísmo e individualismo. É como se parte da humanidade tivesse endurecido o coração.

O mundo parece de cabeça para baixo: violência crescente, intolerância nas relações, falta de respeito, falta de lealdade. O mais assustador é o aumento das tragédias dentro do próprio lar: pais matando filhos, filhos matando pais, casais se destruindo em vez de se protegerem. Relações que deveriam ser porto seguro se transformaram em cenários de horror. Algo tenebroso, que desafia a compreensão.

E não é só dentro das casas que isso acontece. Nos ambientes de trabalho, também vemos cada vez mais pessoas dispostas a puxar o tapete dos próprios colegas, competir de forma desleal e brigar por cargos e posições, como se a vida fosse apenas uma corrida de poder e status. Em vez de colaboração e respeito, crescem desconfiança, inveja e rivalidade. É doloroso perceber que, mesmo depois de uma experiência que mostrou o quanto dependemos uns dos outros, ainda insistimos em nos tratar como inimigos.

O que aconteceu com as lições que a pandemia deixou? Onde ficaram a solidariedade, o cuidado e a valorização da vida? Talvez este seja o maior desafio do nosso tempo: não esquecer. Não deixar que aquela experiência coletiva, tão dolorosa, mas tão reveladora, se torne apenas uma lembrança distante. Precisamos lembrar todos os dias de que somos frágeis, de que não controlamos tudo, de que o que realmente sustenta a existência são os laços humanos, a capacidade de amar, cuidar e respeitar. Se o mundo parece ter desaprendido, cabe a cada um de nós reaprender. Talvez não possamos mudar tudo de uma vez, mas podemos escolher agir diferente com as pessoas, resgatar a empatia, oferecer um gesto de carinho, valorizar quem nos valoriza.

Porque, no fim das contas, não são fortunas, carros ou bolsas de grife que nos salvam. O que nos sustenta é o amor. Sempre foi. Sempre será.

*Cláudia Albuquerque Lordão

Mestra em Políticas Públicas e Cerimonialista da UFC.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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  • Cláudia, como sempre, clara, sensata, objetiva e sensível. Só o amor realmente nos torna humanos. Parabéns Cláudia!

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