Com o título “A procura pelo minimalismo”, eis artigo de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico.
Confira:
Ao ser questionado sobre o tempo necessário para fazer um desenho, respondi que levava cerca de cinquenta anos, refletindo o longo percurso até alcançar o minimalismo nas minhas criações artísticas.
Simples à primeira vista, essa resposta marca minha vida artística e pessoal, um caminho ao desapego. Cada traço que faço hoje, aparentemente espontâneo e direto, é fruto de décadas de prática, estudo, erros e acertos. É o resultado de um processo contínuo de aprimoramento, de uma busca incessante pelo essencial.
No início, eu era seduzido pela complexidade, riqueza de detalhes e ímpeto de cores e formas. Com o tempo, notei que a verdadeira arte está na habilidade de sugerir, de evocar emoções e pensamentos com o mínimo necessário. No minimalismo, cada desenho sintetiza minhas experiências, observações e emoções. Pois bem. Sabe aquele soninho gostoso depois do efeito da prolactina somado à queda da dopamina? Pois é, é justamente isso que sinto após realizar um desenho ou pintura simples, do jeito que eu gosto. É um cansaço prazeroso, uma sensação de plenitude e satisfação, como se cada traço tivesse cumprido seu propósito.
Há muito tempo, através do desenho, persigo o minimalismo em minha arte. Esse desejo de reduzir ao essencial, eliminar o dispensável e concentrar a expressão artística no mínimo necessário para transmitir uma ideia ou emoção. O traço preciso, risco certeiro, é a linguagem direta do sentimento que habita minha imaginação. Cada traço é um diálogo íntimo entre mim e o papel, uma conversa silenciosa onde a economia de formas revela uma riqueza de significados. É um exercício de contenção e disciplina, mas também da liberdade de não precisar dizer tudo, de deixar espaço para o olhar do outro concluir a obra, de sugerir mais do que mostrar.
Essa simplificação exige um olhar atento, mente clara e mão firme. É preciso saber onde parar, reconhecer o momento em que o desenho alcançou sua essência e não precisa de mais nada. É um equilı́brio apurado entre o fazer e o deixar ser, entre a intenção e a espontaneidade. E assim, nesse caminho de busca pelo minimalismo, encontro muito sentido de realização. A simplicidade do traço, a pureza da forma, tornam-se minha extensão. A arte deixa de ser uma representação do mundo exterior e passa a ser expressão do meu mundo interior. E nessa ação, reitero o menos como mais e que a
beleza está na simplicidade.
Essa manifestação artística não é apenas uma técnica ou estilo, mas filosofia de vida, uma maneira de ver e entender universos. Uma forma de estar em paz com a complexidade da existência, achando serenidade na simplicidade do traço.
*Totonho Laprovítera
Arquiteto, escritor e artista plástico.