Com o título “A pulsão entre o amanhecer e o pôr do sol”,eis crônica da lavra da jornalista e escritora Ana Márcia Diógenes.
Confira:
Não sei o que mais me atrai: se os limites ou o processo entre eles. Digo isso porque adoro o pôr do sol, coleciono inclusive inúmeras fotos deste momento na memória do meu celular, mas, ao mesmo tempo, vejo no amanhecer o porvir das engrenagens que deram ritmo ao dia anterior. Nos novos encaixes vou me ajustando ao desconhecido do cotidiano que anuncia me atravessar.
E o que seria do viver se não fosse a pulsão que se coloca entre o ir e o vir do sol; se não fosse o espaço para as noites de variantes luas? É nessas trajetórias inconstantes, provocadas pelas pegadas do Sol e da Lua em nós, que os processos de viver estendem seus limites. Creio que vivemos para fragmentar e atravessar esses limites.
Amanhecer às vezes é permanecer se espreguiçando dentro de mim, de olhos abertos, só expectando meus sonhos. E também é anteceder o próprio acordar, independente do horário, porque o desejo de viver quer mais é sair peitando os desafios.
Por isso não tenho pressa nem pelo pôr do sol nem pelo amanhecer. O processo de transitar entre eles, sem precisar lembrar que existem é,
simplesmente, a mágica que faz os dias acontecerem. A mesma que me faz respirar sem ter que lembrar de ativar todo o percurso do ir e vir do ar nos pulmões.
*Ana Márcia Diógenes
Jornalista e escritora.