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“A quem interessa enfraquecer o setor produtivo da Tilápia e do Camarão?” – Por Benedito Machado

Benedito Machado é jornalista

“A aquicultura brasileira evoluiu com base em rigor técnico e controle ambiental. Normas sanitárias, licenciamento ambiental e protocolos de biossegurança vêm sendo aprimorados ao longo dos anos”, aponta o jornalista Benedito Machado

Confira:

O Brasil consolidou-se nas últimas décadas como uma das principais potências mundiais em aquicultura, destacando-se na produção de tilápia e camarão marinho. Esses dois segmentos somam milhares de empregos diretos e indiretos, geram renda em regiões costeiras e interiores, movimentam cadeias industriais e sustentam comunidades inteiras. Além disso, representam um modelo de diversificação econômica e segurança alimentar, com impacto crescente nas exportações de proteína de alto valor nutricional.

Entretanto, o setor produtivo enfrenta um novo desafio: propostas regulatórias que visam reclassificar espécies já consolidadas na produção nacional como “exóticas invasoras”. Essa discussão levanta preocupações sobre seus efeitos econômicos, sociais e científicos. Classificar a tilápia (espécie-base da piscicultura brasileira) e o camarão Litopenaeus vannamei (responsável pela liderança nacional em carcinicultura) sob esse rótulo pode ter consequências severas para toda a cadeia produtiva.

A aquicultura brasileira evoluiu com base em rigor técnico e controle ambiental. Normas sanitárias, licenciamento ambiental e protocolos de biossegurança vêm sendo aprimorados ao longo dos anos. O país conta com centros de pesquisa reconhecidos, universidades, laboratórios de melhoramento genético e programas de monitoramento ambiental que demonstram que a produção dessas espécies pode ocorrer com impacto ambiental mínimo e elevado padrão de rastreabilidade.

Além disso, as espécies citadas foram tecnicamente adaptadas às condições tropicais do Brasil, tornando-se pilares da economia azul nacional. A tilápia, introduzida há décadas, consolidou-se como uma das principais fontes de proteína animal em várias regiões, impulsionando cadeias agroindustriais, cooperativas e sistemas integrados de produção. Já o camarão marinho gerou um salto tecnológico no Nordeste, fomentando inovação em sistemas de cultivo, nutrição e manejo sustentável da água.

Ignorar esse contexto técnico e histórico pode gerar insegurança jurídica e instabilidade regulatória, afastando investimentos e comprometendo a competitividade internacional do Brasil. A eventual reclassificação dessas espécies como exóticas invasoras poderia restringir licenças, dificultar o crédito rural e desestimular novos empreendimentos, comprometendo um setor que movimenta bilhões de reais por ano e sustenta famílias em mais de 20 estados brasileiros.

É necessário reconhecer que a conservação ambiental e a produção sustentável não são conceitos antagônicos, mas complementares. O avanço do setor aquícola depende de marcos regulatórios baseados em evidências científicas, gestão responsável e diálogo interinstitucional. Políticas públicas equilibradas devem proteger o meio ambiente sem penalizar atividades produtivas que cumprem normas, inovam e geram benefícios sociais concretos.

A questão central, portanto, não é apenas “se” as espécies são exóticas, mas “como” o Brasil pode continuar produzindo com responsabilidade e competitividade. O caminho está na ciência, na tecnologia e no fortalecimento das boas práticas de cultivo — não em medidas que, sob o pretexto de precaução, possam comprometer um setor que já é referência global em sustentabilidade tropical.

Ao invés de enfraquecer a base produtiva da tilapicultura e da carcinicultura, o país deve estimular a integração entre pesquisa, gestão ambiental e produção. É assim que se garantirá a preservação dos ecossistemas e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento social e econômico das regiões produtoras.

Em suma, enfraquecer a tilapicultura e a carcinicultura não interessa ao Brasil — nem ao meio ambiente, nem à economia, nem à segurança alimentar. O que interessa é fortalecer o diálogo técnico, valorizar a ciência e consolidar o equilíbrio entre conservação e produção, garantindo que a aquicultura continue sendo um exemplo de sustentabilidade e prosperidade para o país.

Benedito Machado é jornalista e editor-chefe da plataforma de comunicação cooperativista (Coopere Mais — cooperemais.com.br)

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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