“Francisco seria um líder a retomar caminhos de fraternidade e paz entre os homens e, ‘interna corporis’, soprar novos ares de bonança eclesial. Todavia, não foi bem o que se viu”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves
Confira:
A morte por si só não demoniza os bons, assim como não santifica os maus. Destarte, trata-se de um exercício elucubrativo acoimar o morto de mil maldades ou tentar livrá-lo dos seus humaníssimos defeitos. Isso vale para todos, sem exceção. Para o supremo governante da Igreja Católica, inclusive. O apóstolo São Paulo sentencia peremptoriamente: “Não há um justo, nem um sequer” (Rm. 3.10). E observa que “todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm. 3.23). “De mortuis nil nisi bonum”. Neste modesto artigo não dou ouvidos para esse provérbio latino, até porque quando morre um pontífice católico romano a humanidade não para de especular sobre a vida e a obra dele, pelo menos enquanto a sede vaticana está vacante e o Camerlengo sustenta nos ombros a pesada Barca de Pedro.
Pelo pouco que sei do Evangelho, da doutrina e do magistério da Igreja Católica, o Papa Francisco está agora na dependência total da misericórdia de Deus. Ele, mais do que os simples cristãos, precisa imensamente dessa misericórdia. Ao ser escolhido chefe da Igreja Católica pelo Colégio de Cardeais, o Bispo Bergoglio, deu o tom do seu pontificado ao escolher o nome de Francisco, um santo cuja missão está ligada ao despojamento de bens e à pobreza. De logo, o marketing vaticano definiu Francisco como o “Papa da Misericórdia”. Nada mais esperançoso e alvissareiro em um mundo mergulhado no egoísmo e nos descompassos sociais. Francisco seria um líder a retomar caminhos de fraternidade e paz entre os homens e, “interna corporis”, soprar novos ares de bonança eclesial. Todavia, não foi bem o que se viu. Em face do tom politizante de documentos e declarações concedidas pelo Bispo de Roma, a Igreja se viu cindida, ainda que não explicitamente. A situação de crise assomou porque grande parte dos católicos sentiram-se ameaçados, sufocados pela “fumaça de Satanás” da qual nos falou São Paulo VI, logo depois do encerramento do Concílio Vaticano II, tão mal interpretado pelos padres radicais da Teologia da Libertação, mais comprometidos com a revolução socialista do que com o Reino de Deus.
Francisco era um homem bom? Não se pode dizer ao contrário. Não se tem notícia de Papas mal intencionados. Porém, na História da Igreja contam-se às dezenas os Papas que se desviaram da fé católica e até praticaram crimes quando se assentaram na Cátedra de Pedro. Humanos, demasiado humanos, para lembrar Nietzsche, eles erraram feio! Nenhuma surpresa. É só verificar os graves pecados cometidos por grandiosas personagens bíblicas, como é o caso de Davi, depois chamado “um homem segundo o coração de Deus.” Em face de tais constatações, não se pode eximir o Papa Francisco dos muitos pecados que cometeu ao longo do seu pontificado, sendo o maior deles, a meu modesto entender, a insistência em apoiar militantes comunistas, em especial o séquito de padres marxistas travestidos de cristãos, que desenvolvem um trabalho deletério e apóstata nos escaninhos da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, numa missão demoníaca que tenta de modo sorrateiro – às vezes nem tanto – fazer apodrecer a carne e o sangue de Cristo. Todavia, se a ação dessa gente nos assusta, por outro lado não nos faz quedar genuflexos aos dissimulados prelados vermelhos, porque sabemos que “as portas do inferno não prevalecerão jamais contra a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.”
A postura do Papa Francisco em relação aos comunistas, ao deixar de condená-los em vários momentos em que agiram até em confronto com os valores católicos, a título de exercitar a misericórdia, confunde-se com omissão pecaminosa. Ao assim agir Francisco esqueceu de importantes documentos emitidos pelo magistério episcopal, os quais se assentam na doutrina bimilenar da Igreja que governava. Eu diria mesmo multimilenar, se agregarmos à Igreja nascida com Cristo, os ensinamentos veterotestamentários, que nos asseguram uma maravilhosa tradição judaico-cristã. Condenar o marxismo é uma exigência católica. Todos os Papas o condenaram desde os tempos de Karl Marx, considerando-o “pecado grave”. O Papa Pio IX, por exemplo, definiu-o como uma “doutrina intrinsecamente má.” Em documento elaborado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, com a assinatura do Papa Pio XII, define-se que “fiéis cristãos que professam a doutrina materialista e anticristã do comunismo e, sobretudo, que a defendem ou propagam, incorrem pelo próprio fato, como apóstatas da fé católica, na excomunhão reservada de modo especial à Sé Apostólica.” Isto significa dizer que os comunistas ou quaisquer que com eles pactuem ou se aliem, estão excomungados “latae sententiae”, ou seja, automaticamente. O Código de Direito Canônico, de 1983, reserva a apóstatas da fé, hereges e cismáticos a pena de excomunhão “latae sententiae”. (cânon 1.364), sendo mais rigoroso do que no Código de 1917. O Catecismo da Igreja Católica, reformado por um grupo de eminentes teólogos e publicado em 1992, um documento de imprescindível leitura para os católicos, deixa claro que a Igreja Católica rejeita as ideologias totalitárias e ateias, nos tempos atuais associadas principalmente ao socialismo e ao comunismo (n. 2425). A Igreja não condena o capitalismo, mas condena “o primado absoluto da lei do mercado sobre o trabalho humano”.
Diante do exposto e do que observamos durante todo o pontificado de Francisco, ele foi muito complacente com a “doutrina intrinsecamente má” praticadas pelos comunistas, omitiu-se diante de agressões violentas a católicos em várias partes do mundo e, consequentemente, em várias oportunidades desprezou os mandamentos cristãos, o magistério e a doutrina da Igreja. Enfim, com certeza decepcionou até o Santo de Assis, cuja Ordem nos dias atuais também, infelizmente, está infestada de fradrecos comunistas. Para o Papa Francisco e também para nós outros, roguemos a misericórdia de Deus. Que, aliás, não é seletiva.
Barros Alves é jornalista e poeta