“Os governantes apostam na sorte e deixam tudo ao deus-dará”, aponta o jornalista Norton Lima Jr. Confira:
Uma catástrofe emite sinais. Esteja certo disso. Toda fatalidade pode ser prevista. A literatura universal conta do mundo animal anunciando catástrofes. A Organização Meteorológica Mundial cobra de governos sistemas de alerta precoce para os desastres naturais. Existe a falta de reconhecer as necessidades e de construir planos premonitórios para cada necessidade.
Os governantes apostam na sorte e deixam tudo ao deus-dará. São imprevidentes, inconsequentes, irresponsáveis. Querem o quê? Querem providências para suas imprevidências?
É muita vaidade prepotente no poder. Muito descaso, descuido, desorganização.
Assim falava Marco Aurélio, o mais sábio dos governantes. Pense em seus muitos anos de procrastinação; em como o destino repetidas vezes concedeu períodos de Graça, os quais você não aproveitou; perceba a natureza do universo a que você pertence; entenda os limites do seu tempo limitado; e aproxime-se do poder de controlar do qual somos descendentes. Use-o, avance, ilumine ou esse poder irá embora e nunca mais estará em seu poder novamente.
É por falta de previdência que essas tragédias acontecem. As coisas não podem ficar entregues a elas mesmas. Coisas assim vão de mal a pior.
Veja o exemplo de São Paulo. Lembra como era São Paulo? Um inferno quando chovia. Inundava tudo. Era o caos. Não que melhorou. Ainda inunda. Mas hoje vemos que São Paulo antecipou-se ao problema. Vemos parques lineares, cisternas de contenção de cheias, encostas grampeadas, escadas hidráulicas. Vemos que São Paulo está mais preparada. E São Paulo é grande, imensa, gigantesca e a antropologia da imensa maioria da população ainda foi refinada o suficiente para colaborar.
Falo de cátedra. Não falta de dinheiro. Faltam projetos. O estoque de projetos para o desenvolvimento local está zerado. A política top-down de Brasília deixou as prefeituras cegas e assim pararam de pensar o desenvolvimento local.
Não bastasse o complô contra o municipalismo, quem está no poder local ainda é ruim de serviço.
Veja se Curitiba tem esses problemas? Não tem, porque teve governantes previdentes. Lerner, Lubomir, Tanigushi, Greca, Aníbal Khury. Construtores, pioneiros, sábios realistas. Obras de arte do modernismo brasileiro.
Agora me diga o que esses caras no poder fizeram ou fazem? Não foram previdentes. O governador Eduardo Leite, por exemplo, apelou para sorte. Havia um histórico. As cheias do Vale do Taquari no Rio Grande do Sul têm históricos, 1941, 2023. A profundidade média do rio Taquari de 13 metros, saltou para 30 metros.
Pergunte ao governador qual efluente está enviando mais água? Não saberá responder. Os da margem esquerda (Camisas, Tainhas e Lajeado Grande e São Marcos) ou os da margem direita (Quebra-Dentes, da Prata, Carreiro, Guaporé, Forqueta e Taquari-Mirim)? Não saberá responder. Pergunte o que foi feito em 2023 para evitar o repeteco em 2024? Vai engasgar. Pergunte o que pode ser feito para evitar o repeteco em 2025? Vai te esganar.
Imagino uma infraestrutura de contenção nos efluentes. Mas o que podemos fazer? Nada. A imaginação não está no poder.
Norton Lima Jr. é jornalista