“A soberba que precede a demolição”

Com o título “A soberba que precede a demolição”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e pesquisador. Ele aborda a polêmica em torno da demolição do Edifício São Pedro, situado na Praia de Iracema, em Fortaleza.

Confira:

Paulo Linhares (ex-secretário da Cultura do Estado) é brilhante e tenho postado nas redes sociais suas excelentes colunas dominicais d’O POVO. Mas discordo, fortemente, do seu estilo em seu artigo desse fim de semana.

Começando doutamente sua análise do caso São Pedro, com rebusco da “L’allégorie du patrimoine”, o que confirma sua respeitada verve, Paulo tropeça no final de seu artigo com a dispensável “soberba que precede a queda” que costuma tentar literatos mais arriscosos. Escreveu ele, hoje …

“… sei bem que não é exatamente um pedaço importante da história do nosso povo. É apenas de uma franja de uma certa elite econômica e cultural. Chorar o Castelo do Plácido? Uma cópia vagabunda de um original italiano? Chorar o Edifício São Pedro, símbolo dos privilégios de uma elite desmiolada? Poupem minhas lágrimas”

Imaginem se o mundo derrubasse todos os monumentos que são “réplicas” ou ligados às “elites”. É deselegante desdenhar da inteligência do outro. Chega a ser desrespeitoso com quem pensa diferente, como os quase 80 integrantes do manifesto “Não à demolição de São Pedro sem uma auditoria independente”. Não se trata da semântica do contraditório de ideias, mas a falta de cordialidade na argumentação, a falta de estética no trato e a parcialidade na visão. O que os contribuintes pedem, e tem direito, é *transparência nas ações no lugar de truculência em decisões* que lhes interessam. Memória é uma delas.

O Paulo perde, assim, uma chance de enriquecer o necessário debate sobre o patrimônio e a memória tão carente na sociedade cearense, num oportunismo tacanho incompatível com o que se espera de quem tem o reconhecimento popular de defensor e construtor de marcas indeléveis da Cultura de nosso Estado.

O São Pedro não é *“apenas de uma franja de uma certa elite econômica e cultural.”*

Mauro Oliveira (*a ignorância pragmática é recorrente*).

Professor do IFCE e pesquisador.