“E assim segue a nossa política de segurança pública, na qual o governo federal, por meio do Ministério da Justiça, apresenta mais um rol de propostas focadas na proteção de quem rouba, e não de quem é roubado”, aponta o coronel RR da PMCE Plauto de Lima
Confira:
A Nete trabalha conosco há pouco mais de um ano. Mora em Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza. Acorda às cinco da manhã para chegar aqui em casa por volta das sete horas e retorna para casa às 15 horas, em uma jornada semanal de cinco dias de trabalho por dois de folga (final de semana). Ela tinha um telefone celular velho, que usou até a tela apagar. Percebemos que ela estava tentando comprar outro aparelho, mas, devido a outros compromissos e às suas condições financeiras, isso não era possível naquele momento. Decidimos ajudá-la e compramos um modelo simples de smartphone.
Um mês após receber o celular, Nete estava saindo de casa em direção ao ponto de ônibus para vir ao trabalho quando foi violentamente surpreendida por dois bandidos armados em uma moto, que roubaram seu aparelho. Ela ficou completamente desnorteada e, naquele dia, não veio trabalhar. No dia seguinte, nos relatou, muito triste e ainda traumatizada com a violência sofrida, o que havia ocorrido.
Pessoas pobres e simples, como Nete, são assaltadas todos os dias no Ceará. Elas são as maiores vítimas da violência urbana relacionada a crimes contra o patrimônio. Infelizmente, essas ocorrências são tão frequentes que muitas nem chegam a ser investigadas. As investigações para a resolução desses crimes ainda estão muito aquém do necessário, com percentuais baixíssimos. Se, nos casos mais complexos, como homicídios — tão frequentes que já nem recebem mais tanta atenção nos noticiários —, temos apenas 27% de elucidação, no caso dos roubos — considerados menos graves —, o percentual é ainda menor. Além disso, muitos roubos sequer são registrados. Algumas vítimas não fazem boletim de ocorrência, e há casos em que um único registro computa várias vítimas, como nos assaltos a pontos de ônibus ou dentro dos próprios coletivos.
É lamentável ouvir de algumas autoridades — que deveriam resolver esse problema, que afeta principalmente os mais pobres — afirmações carregadas de discurso ideológico, inocentando esse tipo de criminoso. Segundo elas, “são pessoas carentes e só fazem isso para poder ter um celularzinho”. Carente mesmo somos nós, que temos que engolir esse tipo de discurso de pessoas que dizem defender os mais pobres, mas que, na prática, só enxergam como “pobre” aquele que está armado.
E assim segue a nossa política de segurança pública, na qual o governo federal, por meio do Ministério da Justiça, apresenta mais um rol de propostas focadas na proteção de quem rouba, e não de quem é roubado. São medidas elaboradas por pessoas que estão longe de serem vítimas da violência urbana e que preferem o discurso fácil do “politicamente correto”, tratando como coitadinho quem realmente deveria ser punido: o ladrão.
Plauto de Lima é coronel RR da PMCE e Mestre em Planejamento e Políticas Públicas