Categorias: Artigo

“A tese das múltiplas candidaturas” – Por Oliveiros Marques

Oliveiros Marques é sociólogo

“Divisão da direita pode facilitar o caminho de Lula e até inviabilizar um segundo turno”, aponta o sociólogo Oliveiros Marques

Confira:

A indicação de Flávio Bolsonaro para representar a família na disputa presidencial do próximo ano alimenta a tese, entre alguns próceres da direita brasileira, de que se trata de um movimento estratégico: pulverizar os votos desse campo em diversas candidaturas no primeiro turno para, depois, reunificá-los em torno de quem avançar à segunda volta. É uma tese curiosa, engenhosa até. Mas, ainda assim, uma tese – e, a meu ver, condenada a não encontrar respaldo na vida real.

Para além de fortalecer o PL e assegurar a Valdemar da Costa Neto um fundo partidário – menor que o atual, mas ainda robusto o suficiente para seguir irrigando projetos futuros -, essa estratégia tende a pavimentar um caminho menos acidentado para a candidatura governista de Lula. Não significa, claro, que a vitória de Lula esteja dada. Nada disso. Mas a fragmentação da representação da direita a enfraquece estruturalmente.

As eleições do ano que vem apontam para uma disputa de rejeições. Cerca de 80% do eleitorado já se encontra blocado e assim permanecerá até o momento do voto. Na metade desse contingente que se sente representado pela direita – e sim, eles existem, e são muitos -, a divisão entre diversas candidaturas tende a desidratar a força individual de cada uma, concentrando o rescaldo em uma única opção, que, arrisco dizer, será aquela que carregar o sobrenome Bolsonaro.

Seria isso suficiente para vencer? Eis o ponto frágil da tese. A resposta é não. Seria suficiente para levar ao segundo turno, possivelmente à frente de outros nomes do mesmo campo. Mas isso depende de haver segundo turno – e é justamente aqui que, com a divisão da direita, abre-se a possibilidade de que ele simplesmente não aconteça.

Siga comigo. Durante boa parte da campanha, as candidaturas da direita e extrema-direita precisariam travar uma disputa interna para convencer o próprio eleitorado de qual delas é mais competitiva e mais fiel ao espírito do campo conservador. Esse movimento, por si só, criaria fissuras, ressentimentos e um consumo enorme de tempo – o ativo precioso em uma campanha eleitoral.

E, enquanto esse bloco inteiro estivesse ocupado em se provar para dentro, Lula estaria livre para dialogar diretamente com os 20% do eleitorado que se encontram realmente em disputa, aqueles que podem migrar entre polos e que decidem eleições. Em uma campanha, tempo é mais valioso que dinheiro – e a vantagem competitiva de falar a esse eleitorado, sem distrações internas, é gigantesca.

É por isso que não acredito na tese das múltiplas candidaturas à direita. No fim do processo, esse campo tenderá à convergência em torno de um nome. Hoje, se tivesse que apostar, colocaria algumas fichas na candidatura do filho Flávio. E, nesse cenário, Caiado, Leite, Zema e Ratinho recolheriam os flaps, ajustando rota para disputar o Senado, aguardar outra janela eleitoral ou simplesmente concluir seus mandatos – deixando de lado as urnas em 2026.

Oliveiros Marques é sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Esse website utiliza cookies.

Leia mais