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“A tragédia do Rio Grande e os bichos brasileiros”

Barros Alves é jornalista e poeta

“O velho Eça jamais poderia imaginar que um filhote da Pátria lusitana pudesse gerar gente tão mesquinha, que nem mesmo sob a mais tenebrosa intempérie, é incapaz de irmanar-se na busca da tábua de salvação para todos”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves. Confira:

“Os artistas da Renascença, quando pintavam o dilúvio, nunca deixavam de mostrar, em evidência na tela, como alegoria e como lição, um cabeço de cerro – onde se amontoavam animais contrários, as feras e as presas, cordeiros e lobos, gazelas e tigres, os que assaltam e os que fogem, colados dorso a dorso, buscando um no outro refúgio, no pavor comum da maré negra que em torno sobe e vai a todos tragar…”

O texto resulta da observação percuciente do romancista português Eça de Queiroz, quando escreve, a propósito do incêndio do Teatro Baquet, no Porto, 1888.

O autor d’OS MAIAS imagina que tal deve ter ocorrido por ocasião da “primeira desgraça do mundo”, aduzindo que ontem como hoje é natural que as pessoas, sob o terror de uma catástrofe, tendam a aglomerar-se, ainda que as mais opostas e as mais díspares.

O velho Eça jamais poderia imaginar que um filhote da Pátria lusitana pudesse gerar gente tão mesquinha, que nem mesmo sob a mais tenebrosa intempérie, é incapaz de irmanar-se na busca da tábua de salvação para todos.

Claro que não estou a falar das imensas camadas populacionais que submergem ao dilúvio que se abateu sobre um dos mais importantes Estados brasileiros. Refiro-me às elites governantes neste malsinado Brasil do lulocomunopetismo, cujos bichos dirigentes (lembrai-vos da fazenda de animais de George Orwell) deixam à mostra os instintos mais escabrosos, sórdidos e destrutivos, numa ação entredevoradora de fazer inveja às mais insaciáveis hienas.

Em ambiente diluviano, o Brasil e o mundo assistiram perplexos a burros, jumentos, mulas, asininos de variadas subespécies; e galinhas com complexo de pavão, intentarem artificiosamente a afogar os gansos, sob a tempestade, em festim no qual os veados, por exemplo, faziam de conta que nada estava a acontecer de preocupante.

O mesmo sentimento artístico que a sensibilidade do esteta Eça de Queiroz remeteu à natural solidariedade humana, ainda que imposta pelas circunstâncias, no Brasil do Rio Grande sob às águas, só teve lugar no coração das massas vitimadas pelas chuvas. Muito mais vítimas em razão do desleixo dos bichos governantes, sobretudo burros e veados. Havemos, pois, de rogar à Suprema Divindade (não confundir com os quadrúpedes togados) que de uma vez por todas nos livre desses animais; que em havendo uma próxima vez não seja o tormento pelas águas, como nos tempos de Noé. Determine o Padre Eterno que as forças da Natureza façam a limpeza completa. No vale e no planalto. Fogo caído dos céus e uma chuva de enxofre, sem direito a que se olhe para trás.

Barros Alves é jornalista e poeta

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