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“A tragédia e a farsa na História”

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor e escritor, além de ex-reitor da UFC

“Se o Comunismo ainda existe no Brasil, bastaria alguns galões sobre os ombros para justificar a afirmação sobre a veracidade da afirmação”, aponta o cientista político Paulo Elpídio de Menezes Neto. Confira:

De fato, a “História acontece como tragédia e repete-se como farsa”, escrevera Marx em texto célebre sobre o golpe de Carlos Luiz Bonaparte, presidente eleito da Franca, convertido em Imperador, no século XIX.

Tragédia teria sido Napoleão I. Farsa, o seu sobrinho, Napoleão III. Há uma certa lógica nesses desdobramentos das astúcias dos franceses.

A história é construída sobre fatos, rumores e mentiras (nas guerras, como nas revoluções, a mentira faz-se verdade histórica). A História é escrita pelos vencedores.

Fatos, rumores e versões transferidos para as ilhargas da História são parte não confirmada da verdade, a engenhosa edificação da nossa realidade acumulada.

Muitos desses fatos, malgrado as circunstâncias que os cercam, condicionam e os produzem, persistem no convencimento de quem os aceitou como verdadeiros. Ou como falsos relatos do passado.

Esses graves eventos, produtos da imaginação e da criatividade dos agenciadores de versões definitivas, poderiam ser classificados como “fatos” e “anti-fatos”.

Por exemplo, no Brasil, a “Intentona Comunista” de 1935 e o 8 de janeiro de 2024 poderiam ser classificadas como fatos é anti-fatos, segundo a ótica ideológica de quem construiu essas diligentes versões. A nossa aceitação ou recusa confere a essas ocorrências a verificação de verdade ou mentira.

O movimento civil-militar de 1964, espécie de cooperação público-privada levada às suas toleradas consequências, de tão controverso, poderá ser aceito como um fato real ou uma ficção, produzida pelas afirmações de autoridade. Se nasceu de impulsos genuinamente democráticos ou não, os “Intérpretes do Brasil” dirão a seu tempo.

Se o Comunismo ainda existe no Brasil, bastaria alguns galões sobre os ombros para justificar a afirmação sobre a veracidade da afirmação (não seria o vaticínio de um patriota?).

De manifestações de fé acentuadamente ideológica, aceitas e formatadas como verdadeiras, a simples menção ou denúncia de “anticomunismo” ou “anticomunista” assinala, aos olhos dos novos democratas conversos, a feição antidemocrática de quem as proferiu. Porém o verbete “antifascista”, na boca dos insensatos, é acusatório bastante para identificar o agente de todas as intrigas, o terrorista que ameaça a democracia, as populações desarmadas refugiadas às outras dos quartéis que gritam, reclamam e pedem pelo futuro, já que pelo passado nada há mais a fazer… Estranha compulsão que se impôs: à falta de vozes para representarem o povo nas extensões do mandato e da representação, por omissão conveniente, os cidadãos prostraram-se às portas dos quartéis.

Em Portugal, ao tempo da invasão napoleônica, os habitantes do lugar perguntavam, aflitos e carregados de esperança, como estavam as tropas franceses invasoras. A resposta dava conta de que “tudo estava como antes no quartel de Abrantes”…

Paulo Elpídio de Menezes Neto é cientista político, professor, escritor e ex-reitor da UFC

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