Com o título “Abraço Cultural”, eis artigo de Totonho Laprovítera, arquiteto, escritor e artista plástico.O apoio à cultura vai além do subsídio direto aos artistas, pois, sem um público engajado e formado, a arte se restringe a um círculo limitado de criadores e apreciadores”, expõe o articulista.
Confira:
A atividade artística tem sido objeto de debates constantes acerca de sua função na sociedade e do modo como deve ser incentivada. No centro dessa discussão está a formulação das políticas públicas culturais: elas devem priorizar os artistas ou atender à população? Na minha opinião, a resposta é evidente: as políticas culturais devem ser direcionadas ao povo. Calma, eu explico.
O apoio à cultura vai além do subsídio direto aos artistas, pois, sem um público engajado e formado, a arte se restringe a um círculo limitado de criadores e apreciadores. Ao investir na democratização do acesso à arte e na ampliação do repertório cultural da sociedade, estamos, por consequência, fortalecendo os artistas. Um povo que consome cultura gera demanda, e essa demanda estimula a produção artística.
Lamentavelmente, muitas iniciativas públicas continuam a se concentrar no apoio a indivíduos ou grupos específicos, redistribuindo recursos de maneira que frequentemente não produz o impacto social desejado. Isso cria um ciclo vicioso, onde os benefícios se limitam a um pequeno número de favorecidos, enquanto a maioria da população permanece distante das manifestações culturais.
O verdadeiro fortalecimento da cultura requer a implementação de políticas que aproximem a arte às pessoas. Isso implica em incentivar a criação de espaços culturais acessíveis, assegurar a gratuidade de eventos, promover a educação artística nas escolas e estabelecer mecanismos que facilitem o diálogo entre artistas e a sociedade. O propósito é transformar a arte em uma necessidade diária, em vez de um privilégio restrito para alguns.
Dessa forma, afirmar que as políticas culturais devem ser direcionadas ao povo não significa desconsiderar a relevância do artista, mas sim assegurar que ele conte com um público mais envolvido, crítico e interessado. A cultura só se sustenta verdadeiramente quando se torna uma parte ativa da vida das pessoas. E, quando isso acontece, os artistas são os primeiros a se beneficiar.
Temos o que todo lugar inteligente valoriza: artistas talentosos. Nosso povo, corajoso e vocacionado, nasce com o tino da beleza, enxergando além. Na rua, no quintal, na feira, na conversa de calçada, a arte floresce. Promovamos o abraço cultural entre artista e público.
Pois é, falar de cultura é falar do encontro entre quem cria e quem aprecia. Arte sem olhar morre no berço. Orgulhar-se dos artistas é também se orgulhar de ser público, pois ver, ouvir e participar são tão essenciais quanto criar. Então, vamos nos atrever a ver, a ouvir, a apoiar. A Cultura já existe, não se inventa, mas pode ser reinventada!
Agora, com licença, que eu vou desenhar e pintar.
*Totonho Laprovítera
Arquiteto, escritor e artista plástico.