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“Acertos e erros”

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “Acertos e erros”, eis mais uma crõnica da lavra de Totonho Laprovitera, arquiteto, escritor e artista plástico.

“Se desejas alcançar acertos, prepara-te para enfrentar os erros.” (Blanchu)

Hoje, amanheci pensando sobre acertos e erros na vida, e logo me vi deitado na rede em que espreguiça a nossa existência. Em meio ao ritmo constante de tentativas e revezes, pergunto-me se, na verdade, existe uma diferença tã o clara entre o que é certo e o que é errado. Talvez, sob uma perspectiva mais densa, acertos e erros sejam apenas rótulos que usamos para entender a trajetória humana, mas
que fazem parte de um mesmo ciclo inevitável da experiência.

Na visã o existencialista, a vida nã o nos oferece respostas prontas, nem um roteiro a seguir. Somos lançados ao mundo, livres para agir, mas também responsáveis pelas consequências dessas ações. E nessa liberdade muitas vezes sufocante, o erro se apresenta como uma das poucas certezas. Erramos porque somos humanos, falı́veis e incompletos. Mas será que errar é realmente um desvio
do caminho, ou é apenas um passo necessário para nos conhecermos?

Ao longo da vida, cada escolha que fazemos – seja sucesso ou uma topada – reflete quem somos naquele momento. Não existe um “acerto” absoluto, porque o conceito de cada decisã o muda conforme evoluı́mos. O que parecia um erro travoso pode virar, com o tempo, um aprendizado que nos urde, modela e ediJica. Afinal, somos o resultado tanto das nossas vitórias quanto das nossas derrotas. Portanto, acertar e errar não são opostos, mas sim faces da mesma moeda: a da autenticidade. Viver plenamente é se permitir errar, reconhecendo o valor dos erros em nossa trajetória.

Pois bem. Eu digo é muito que, assim como na vida, na arte muitos “erros” são acertos. Ontem mesmo, por sinal, sem querer eu derramei um pouco de nanquim em minha mesa de trabalho. Aı́, para não perder a tinta, peguei um cartão, e feito espátula espalhei sobre uma das folhas do meu caderno de rápidos desenhos. Voei nas asas da imaginaçã o e um pássaro – bicho de pena! – em pouso surgiu dos meus sonhos despertos.

É tanto quanto na vida, para se desenhar também é preciso ter a coragem de correr riscos! “Desenhar é como fazer um gesto expressivo, mas com a vantagem da permanência”, disse Matisse. Gosto de desenhar ouvindo mú sica. Feito maestro, voo em gestos que traçam partituras da minha alada imaginaçã o. No papel, feito céu, com a pena ou pincel, traço cartas de navegaçã o dos meus acordados sonhos. Em
nanquim, bichos de pena… ah, é muito bom e me faz um bem danado desenhar.

Por fim, lembro do filósofo errante Toim da Meruoca, dizer ao pé do abençoado balcão da bodega “Festina Lente”: “É difı́cil aguentar as incertezas da vida, mas é fácil cometer erros devido a elas.”

*Totonho Laprovítera

Arquiteto, escritor e artista plástico,

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