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“Ainda que não mais seja”

Tuty Osório é jornalista e escritora

“Vale chorar, mas vale rir muito mais. Ocupar os dias com a beleza que é ter oportunidade de amar”, aponta a jornalista e publicitária Tuty Osório.

Confira:

Nas viagens de trabalho fico, quase sempre, longos períodos longe de casa. Carrego sempre um pouco da casa comigo.

Livros, bonecas de pano das minhas filhas quando meninas, fotos. Arrumo qualquer quarto de hotel como se fosse uma morada para sempre. Pode durar uma semana, ou meses. Morar é um estado de espírito, afinal.

Sinto falta das conversas. Sou de uma família de gente verbal, que por mais que fale, tem sempre demanda de fala. Às tantas, já entabulei conversação com o pessoal que atende às mesas no café da manhã, com os funcionários da Farmácia e da Mercearia. São minha família por momentos.

Matias é caixa de um dos lugares que frequento em Brasília. Leite cru, iogurte natural, frutas secas, sementes, nozes, chás e bons vinhos. Vou lá para me abastecer. De viveres e de palavras

Dizia a ele que é muito bom compartilhar. Citando Mário de Andrade, sem saber, Matias pondera que a amizade é também compartilhar o silêncio. Lembro de meu pai, não de Mário, de pronto. Meu pai afirmava que o silêncio também é uma conversa.

Falas, silêncios, sufocamentos existenciais, vazios vadios. Na amizade cabe a troca de ideias, desatinos, fraquezas e forças. Se não cabe, não é amizade.

Quando voltar a Brasília contarei a Matias que este mundo está mais triste porque uma amiga mudou de Plano.

Talvez mais alegre porque tristeza só era com ela se fosse pra superar. Não se criava, não…Diante dessa partida, quase tudo me parece pequeno. Agigantou-se o compromisso que assumi com ela de ser mais engraçada nas crônicas.

Vale chorar, mas vale rir muito mais. Ocupar os dias com a beleza que é ter oportunidade de amar.

Amar é tão natural em nós que nos esquecemos que vêm daí os nossos bons e maus afetos. Que é o amor o nosso couro de cateto*pra dar um acesso.

“NÃO TEM NEM UM COURO DE CATETO PRA DAR UM ACESSO”, dito de Minas Gerais que significa não ter onde repousar. Foi da amiga que partiu que ouvi essa história, numa tarde quente de setembro, depois de um almoço num restaurante brasilense que se chamava, Couro do Cateto.

Tuty Osório é jornalista, publicitária, especialista em pesquisa qualitativa e escritora. Lançou em 2022, QUANDO FEVEREIRO CHEGOU (contos); em 2023, MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE MARIA AGUDA (10 crônicas, um conto e um ponto) e SÔNIA VALÉRIA A CABULOSA (quadrinhos com desenhos de Manu Coelho); todos em ebook, disponíveis, em breve, na PLATAFORMA FORA DE SÉRIE PERCURSOS CULTURAIS

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (3)

  • O silêncio é uma fala de pensar, ponderar e não deixar esquecer o que se está sentindo. Faz tempo que tento fazer uma foto que seja o silêncio, acho que não vou conseguir, sou muito inquieto e barulhento.
    Boas palavras amiga!

  • Eu sinto que para mim o silêncio é boa companhia! Por isso ,quando estou só,nunca me sinto só! Parabéns,filha,linda a tua crônica e homenagem!

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