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“Alice… das maravilhas à singularidade da IA”

Mauro Oliveira é PhD em Informática por Sorbonne. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Alice … das maravilhas à singularidade da IA”, eis artigo de Mauro Oliveira, professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University). Ele aborda tema dos mais importantes e que deve bombar neste 2025.

Confira:

2030: após uma década marcada pela chamada “pandemia de desemprego”, causada pela rápida ascensão da Inteligência Artificial (IA) Generativa (essa do ChatGPT) integrada a Agentes Inteligentes (sistemas autônomos capazes de perceber, raciocinar e agir), o mundo encara a incapacidade das sociedades em se adaptar na mesma velocidade da IA, punindo países que fizeram “ouvidos de mercador” para esse problema. Em 2023, o Fórum Econômico Mundial já projetava a eliminação de 83 milhões de empregos até 2027, enquanto o FMI alertava que a IA poderia afetar 40% dos mercados emergentes.

A singularidade tecnológica (conceito que ocorre quando sistemas ultrapassam um ponto crítico de desenvolvimento, tomando decisões ou gerando respostas inesperadas com base em critérios próprios) que antes do réveillon de 2024 parecia distante, já começa a se anunciar, passados rápidos 5 anos (2030). Uma prova disso são os primeiros robôs humanoides domésticos e fabris com a “tecno-existencial” Inteligência Artificial Geral (IAG), uma IA capaz de compreender, aprender e executar qualquer tarefa intelectual que um ser humano realiza. Eles aparecerão aos montes substituindo trabalhadores humanos em atividades domésticas e fabris, com eficiência inigualável, promovendo sérias questões éticas e sociais, exacerbando desigualdades sociais.

Mas … muita calma nessa hora! Isso é apenas o que diz Scott Dale, Diretor de “Alice (subservience)”. No filme, Alice é um robô humanoide doméstico que desafia os limites do controle humano. Assim como em “Alice no País das Maravilhas” de Lewis Carroll, onde a protagonista Alice enfrenta um mundo de regras subvertidas, essa nova era tecnológica traz desafios que ecoam a busca por identidade e controle.

Com a singularidade tecnológica, as máquinas superam a inteligência humana. É como um País das Maravilhas tecnológico. A diferença? Alice de Lewis Carroll ainda tinha algum controle em sua jornada. Na singularidade, somos nós que podemos nos perder em um mundo dominado pelas máquinas. Vai acontecer? Quando? …

A IA começou por volta dos anos 50 como uma ferramenta para simplificar tarefas, mas caminha para algo que desafia nossa compreensão. Tecnologias como o Deep Learning, desenvolvidas por Yann Le Cun (Prêmio Turing, 2018), Geoffrey Hinton (Nobel de Física, 2024) e outros, ensinarão às máquinas não apenas a “ver” o mundo, mas a interpretá-lo, tomarem decisões autônomas e até mesmo criarem novas soluções. Modelos baseados em Deep Learning são frequentemente descritos como “caixas-pretas”, onde nem os programadores compreendem completamente como as decisões são tomadas. Assim como Alice, estamos explorando um território onde as regras humanas poderão ser cada vez menos aplicáveis.

Se um dos temas centrais de Alice no País das Maravilhas é a busca pela identidade (Alice constantemente se pergunta: “Quem sou eu?”), na singularidade, essa questão ecoa em um nível coletivo: quem somos nós, humanos, em um mundo onde máquinas podem superar nossas habilidades? Surgem, assim, dúvidas fundamentais sobre a identidade humana:
• O que significa ser criativo quando uma máquina pode compor sinfonias ou escrever romances?
• Como definimos inteligência em um mundo onde algoritmos tomam decisões mais rápidas e eficazes do que nós?
• Qual é o nosso papel quando as máquinas não apenas executam tarefas, mas também as inventam?

Essa crise de identidade não é tão diferente do dilema de Alice. Assim como ela precisa redefinir seu lugar no País das Maravilhas, nós precisamos reavaliar o que significa ser humano em um mundo pós-singularidade. Outro paralelo interessante entre as duas narrativas é a questão do controle. No País das Maravilhas, Alice enfrenta forças imprevisíveis, como a Rainha de Copas, cujo poder arbitrário governa sem lógica aparente.

A singularidade representa o auge dessa perda de controle. Neste contexto ficcional (por enquanto), mais do que ferramentas, as máquinas poderão moldar o futuro de maneiras que escapam à intervenção humana. Embora a IA seja criada por nós, ela já está se tornando cada vez mais autônoma: um momento em que a IA não apenas será independente, mas também poderá moldar o futuro sem nossa intervenção.

As implicações éticas e sociais dessa jornada são profundas:
• Quem controla a IA em um mundo onde ela pode ser usada tanto para o bem quanto para o mal?
• Como evitar que ela caia nas mãos de atores mal-intencionados?
• O que acontece quando sistemas avançados se tornam tão poderosos que escapam de qualquer forma de supervisão humana?

Essas são perguntas que não podem ser ignoradas, pois, como Alice, estamos em um território onde o inesperado é a única constante. Assim, como o País das Maravilhas, é ao mesmo tempo fascinante e assustador, a singularidade tecnológica carrega promessas incríveis e perigos alarmantes. Por um lado, a IA pode resolver problemas globais, como mudanças climáticas, doenças incuráveis e desigualdades sociais. Por outro, poderá colocar em risco nossa segurança, autonomia e até mesmo nossa existência ao tentar resolver esses problemas globais.

Precisamos dicutir com urgência os impactos da IA na sociedade. Diferente da fantasia de Lewis Carrol.

*Mauro Oliveira

Professor do IFCE e PhD em Informática (Sorbonne University).

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