Com o título “Animais de rua abandonados. A triste realidade”, eis artigo de Adahil Barreto, advogado e ex-deputado estadual. “A omissão na administração pública é tão maléfica quanto a ação ineficaz que não consegue mitigar os efeitos do problema”, expõe o articulista.
“Todas as políticas que nós temos voltadas à causa
animal, até hoje elas são destinadas unicamente
para animais tutorados. Nós nunca tivemos um
cuidado especial para aqueles que vivem nas ruas. O
desafio maior é acabar com a ignorância das
pessoas”.
Confira:
Essas palavras são do secretário de Proteção Animal de Fortaleza, em matéria recente publicada em jornal de grande circulação do Estado. Confesso que fiquei indignado e decepcionado ao mesmo tempo. Eu já vinha advertindo, há muito tempo, que a população de cães e gatos abandonados nas ruas, parques, praças e outras áreas de Fortaleza, vinha aumentando consideravelmente e, aparentemente, não havia políticas públicas para acolher, cuidar e procurar adoção para esses bichanos. Mas agora, não restam dúvidas: a situação é muito grave!
No âmbito do Estado, é também muito preocupante, e não vejo uma luz no fim do túnel, infelizmente.
Devo dizer que não sou especialista nessa área, nem tampouco alimento qualquer interesse político com essa manifestação, pois estou afastado da política há mais de 12 anos. Na minha época, a causa animal não tinha o suporte legal e institucional de hoje, cada vez mais protetor e sancionador contra aqueles que praticam maus tratos aos animais. Entendo que a legislação se aplica tanto ao cidadão infrator, como, eventualmente, àqueles que exercem funções públicas vinculadas diretamente à obrigação de cuidar dos bichanos abandonados.
A omissão na administração pública é tão maléfica quanto a ação ineficaz que não consegue mitigar os efeitos do problema. Eu sei que os recursos públicos são escassos, mas o cuidado com os animais de rua deveria ser uma das prioridades nos orçamentos do Estado e das Prefeituras, pois é também uma questão de saúde pública. Porém, como cidadão, o que vejo é muito político tirando proveito dessa causa. Por si só, não teria nada de errado aquele, que contribui, mostrar o seu trabalho. Mas alguns, se dividem em grupos antagônicos nas zonas de Fortaleza, visando preponderantemente a hegemonia da narrativa em favor dos animais, ao invés de trabalharem em harmonia a favor destes.
A mídia institucional é bem produzida, mas, se não estiver em sintonia com a realidade das ruas, a população não absorve. O VetMóvel, o Pet Ceará Móvel e outros programas criados pelas Prefeituras e pelo Estado são importantes, mas deixam os bichinhos abandonados de fora; inadmissível! Acho, portanto, que ações concretas e coletivas e em parceria do Poder Público com entidades e cuidadores de credibilidade, periodicamente fiscalizados, podem fazer a diferença. Não disse nenhuma novidade. Mas é preciso acontecer de fato.
Finalmente, sem prejuízo do que aqui já levantei, as Prefeituras cearenses, especialmente a de Fortaleza, poderiam seguir alguns exemplos de acolhimento e tratamento dos animais de rua para adoção, como ocorre em São Paulo e em outras cidades.
A causa animal não tem dono!
*Adahil Barreto
Advogado público aposentado e ex-deputado estadual.