Com o título “Ariosto Holanda, a arte de conceber projetos e realizar, planejar e fazer”, eis artigo de
Flamínio Araripe, jornalista e pesquisador. Ele destaca o ex-deputado federal Ariosto Holanda, exemplo de homem público que dedicou sua atuação política à educação para o trabalho.
Confira:
Sempre me identifiquei com as pautas de Ciência no Jornalismo, desde que comecei na profissão em São Paulo e depois no Acre, onde fui correspondente da “Agência Folha” e atuei na imprensa local. Cearense do Crato, voltei para o Ceará em 1989 para trabalhar em Fortaleza como repórter e editor no jornal “O Povo”, depois “Diário do Nordeste” e correspondente do “Jornal do Brasil”.
Trabalhei como assessor de imprensa da Secretaria da Ciência e Tecnologia desde a fundação em 1995 – o primeiro titular era Jurandir Picanço – e continuei quando Ariosto Holanda assumiu a Pasta, em seguida. Já conhecia o deputado como fonte de informações a que recorria para algumas matérias, pois era referência nas áreas de tecnologia, economia e educação. Foi uma relação de trabalho que amadureceu no respeito e amizade, se aprofundou no convívio do dia a dia na Secretaria, nas campanhas políticas e como secretário parlamentar dele, deputado federal, por alguns mandatos.
Ação política
Ariosto Holanda se distinguiu pela capacidade de conceber projetos inovadores no campo da educação tecnológica, a capacitação para o trabalho – do analfabeto que precisa aprender uma profissão nos Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT) à graduação e pós- graduação ofertados no Centec, as Faculdades de Tecnologia. Esta estrutura gerou a transformação de muitas vidas de filhos de agricultores do interior ou de famílias urbanas que não tinham oportunidade de acesso a uma educação gratuita voltada para o trabalho.
Com sucesso, Ariosto soube unir a idealização de uma rede de educação profissional ao desenho do projeto na articulação com parceiros até a sua implantação. Trabalhava nas duas etapas: conceber e realizar, planejar e fazer. E mais: desenvolveu um esforço para fortalecer esta estrutura por meio de uma ação política, de modo a assegurar perenidade institucional a estes projetos.
Não basta desenhar os projetos e encontrar os parceiros certos com o conhecimento para realizá-los. É preciso também convencer os governantes da sua importância e sobretudo mostrar resultados. Incansável, ele procurou apoio no governo federal de modo complementar ao governo estadual
Criação do CVT
Na gestão do presidente Itamar Franco, em 1994, numa audiência com Israel Vargas, ministro da Ciência e Tecnologia, e Walter Barelli, ministro do Trabalho, Ariosto propôs uma ação nacional de capacitação da população para o trabalho, com adesão da sociedade civil, representada pelo sociólogo Betinho, para promover o combate à fome. Nesta reunião histórica, o governador eleito Tasso Jereissati se comprometeu a apoiar estes projetos no governo do Ceará. Honrou a palavra ao delegar a Ariosto a liderança do processo como secretário da Ciência e Tecnologia.
O senador Beni Veras afiançou a aliança com Tasso para trazer Ariosto ao PSDB, de modo a atender à condição exigida pelo deputado para aderir ao partido: a implantação da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e a criação da Secretaria da Ciência e Tecnologia e do Instituto Centec.
Convívio com as diferenças
No campo democrático, o convívio com a diferença é uma realidade, mas nunca paralisou a ação de Ariosto Holanda. Ele precisava fazer avançar os projetos de educação tecnológica e ao mesmo tempo atender demandas das três universidades estaduais, vinculadas à Secretaria da Ciência e Tecnologia. Resistiu à pressão da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), porta voz do setor acadêmico local, para que as bolsas da Funcap fossem destinadas exclusivamente à pesquisa científica e não mais ao apoio institucional para a implantação da rede de educação
tecnológica. A Funcap financiava então a pesquisa científica e as universidades estaduais, sim, mas não
só.
Biodiesel
Alguns projetos de Ariosto Holanda, que continuou a formular suas ideias, sempre com vistas à melhoria de vida da população mais humilde, não avançaram como formulou porque outros governantes tolheram a ação. Cito os projetos de Biodiesel e de Telemedicina.
O seminário sobre Biodiesel que realizou na Câmara Federal, resultou no programa do governo federal. O governo Dilma Rousseff privilegiou a indústria, esquecendo a ênfase do projeto original que visava a disseminação de miniusinas ligadas a grupos organizados da agricultura familiar com aquisição garantida da produção pela Petrobras. Ainda hoje biodiesel é um projeto das indústrias, sem nada de inclusão social.
Educação profissional
Durante seus mandatos na Câmara Federal, Ariosto Holanda foi o deputado que mais colocou recursos de emendas para os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE). O parlamentar liderou a adesão da bancada federal do Ceará para viabilizar recursos destinados à expansão da rede de Institutos Federais que resultou em mais dez unidades pelo interior do estado. É de autoria do deputado a emenda para a construção do Centro de Treinamento Técnico do Ceará (CTTC) em Caucaia, do IFCE, na região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
Hoje, a importância da educação tecnológica, que forma técnicos de nível médio e de nível superior, é consenso no Brasil. Depois de uma exposição de Ariosto Holanda ao então governador Cid Gomes, foi lançado o programa das Escolas Estaduais de Educação Profissional. Chamou a atenção do governador o dado da desproporção entre o número de técnicos de nível médio e de educação superior no país. O Brasil privilegia a titulação bacharelesca em detrimento da formação de nível médio, tão demandada pelo mercado de trabalho, uma relação inversa da que era observado então nos países desenvolvidos.
*Flamínio Araripe,
Jornalista e pesquisador.