Coletivo Calçada.20: Obras para o Bicentenário da Confederação do Equador.
O Coletivo Calçada.20, formado por 22 artistas plásticos cearenses, abraçou o desafio de participar das comemorações dos 200 anos daConfederação do Equador, movimento republicano do qual o Ceará fez parte em 1824, com destaque à memória da heroína nacional Bárbara de Alencar. Projeto é encampado pela Fundação Sintaf, pelo Sintaf e pela Eceiba.
Há poucos dias, os artistas deram início à produção de 20 telas que comporão uma exposição comemorativa itinerante, com primeira amostra prevista para o dia 26 de agosto, por ocasião de Audiência Pública da Assembleia Legislativa do Ceará. O objetivo da exposição é promover reflexões sobre a importância da Confederação do Equador, bem como de seus espaços e personagens, no contexto das lutas libertárias do século XIX, que resultaram na implantação da República no Brasil.
O projeto é encampado pela Fundação Sintaf, com o apoio do Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf) e da Eceiba (Estação de Cultura Ecopedagógica e Instituto Bárbara de Alencar).
Resgate da cidadania política e cultural
O diretor de Cidadania, Inclusão Social e Cultura da Fundação Sintaf, Luiz Carlos Diógenes, explica que a comemoração do bicentenário também prevê apresentações teatrais em municípios do Ceará, com o resgate do valor político e histórico dos heróis e heroínas cearenses. “Estas duas ações no campo das artes plásticas e cênicas são iniciativas que buscam contribuir com o fortalecimento da cidadania política e cultural do Nordeste brasileiro”, destaca o diretor.
Processo criativo diverso
Zezé M. de Sales
A artista plástica Zezé de Sales, que coordena o Calçada.20 com Vlamir Sousa, conta que, em primeiro lugar, o grupo se reuniu para debater e aprofundar o tema, considerado de suma importância. Sobre o processo criativo, Zezé explica que cada um tem o seu. Ela refletiu e rascunhou por três dias até chegar ao desenho final e dar início à pintura. “Esse projeto atual, dos 200 anos da Confederação do Equador, focando na heroína Bárbara de Alencar, está sendo muito rico para todos nós”, aponta.
Albio Sales
Arquiteto e artista plástico, Albio Sales se integrou ao grupo há cerca de cinco anos. Ele conta que seu processo de criação é mais voltado à abstração. “Aceitei o desafio e estou desenvolvendo um trabalho figurativo. O que mais me chama atenção são as formas, então a geometria está sempre presente no meu processo criativo. Escolhi representar Frei Caneca, uma figura mais ligada a Recife, no forte das Cinco Pontas, onde ele foi executado”, explica.
Francisco Vagner
O artista plástico Francisco Vagner escolheu a representação da figura de Bárbara de Alencar, embora não exista uma foto oficial da heroína. Ele manifesta que ficou muito feliz com o convite sobre a exposição. “Acredito que hoje o mundo está resgatando as suas memórias mais coerentes em relação à vida do povo. Dar essa contribuição para mim é muito importante. Fiquei feliz com o processo e espero que seja uma grande exposição”, afirma.
Moema Araripe
Moema Araripe ainda é iniciante nas artes plásticas e vem sendo incentivada por Francisco Vagner. “Eu tenho que pintar aquilo que eu vivo. Eu sou cearense, sou cratense e sou sertaneja, então estou numa fase pintando apenas cactos. Então a representação de Bárbara será uma flor de cacto, simbolizando a coroa de espinhos que ela sofreu”, destaca. A artista conta ainda que tem uma estreita ligação com a heroína, pois ela também é Alencar de sobrenome. “Bárbara, para mim, é um incentivo”, completa.
Chagas Cunha
O trabalho do escritor e artista plástico Chagas Cunha está bem adiantado, mas ainda terá retoques, conforme destacou. Segundo ele, a proposta gerou muita expectativa pela riqueza do tema – que ideais de liberdade, resistência, heroísmo e liderança da mulher. “Estou satisfeito de estar participando e acho que o nosso trabalho deve contribuir para ampliar um pouco mais a visão historiográfica da Confederação do Equador, que passa por algumas questões enviesadas, principalmente quando é temática de resistência do Nordeste e do nordestino”.
Sobre a Confederação do Equador
A Confederação do Equador foi um movimento inspirado nas ideias republicanas que se insurgiu contra o sistema monárquico implantado Brasil, centralizado na figura de D. Pedro I.
O Ceará foi um dos palcos da Confederação, que teve início em Pernambuco e contou com a adesão do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. No Ceará Confederado, entre outros revolucionários, destacam-se Padre Mororó, Pereira Filgueiras, José Martiniano de Alencar e Tristão de Araripe, sendo estes dois últimos filhos de Bárbara Pereira de Alencar, primeira presa política do Brasil, encarcerada de 1817 a 1820.
Bárbara é também avó da maior expressão do Romantismo brasileiro, José de Alencar e participou ativamente na luta pela libertação do jugo opressivo português. O destaque político e público maior de Bárbara foi por ocasião da Insurreição Pernambucana de 1817. Em 1824, na Confederação do Equador, seu protagonismo ficou mais nos bastidores.
O Coletivo Calçada.20 é um grupo de artistas que se organizou há seis anos para promover exposições e ações no âmbito da produção e difusão das artes visuais. Possui um elenco permanente ao qual vai se agregando novos componentes de acordo com os eventos. Dentre suas principais realizações, destacam-se as exposições “08 de Março” e “Maio das Artes”, referentes ao dia do artista plástico no Brasil.