“Aspectos da difícil tarefa política de Roberto Cláudio” – Por Carlos Holanda

Carlos Holanda é jornalista, com experiência na Política. Foto: Arquivo Pessoal.

“Quando, exatamente, ele se convenceu de que seus antigos aliados não eram bons e honestos do modo como pensou por 16 anos consecutivos?”, aponta o jornalista Carlos Holanda

Confira:

Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra migrou do Partido Democrático Trabalhista (PDT) para o União Progressista Brasileira (UPB) — fusão entre União Brasil e Progressistas — movido pelo desejo de governar o Ceará a partir de janeiro de 2027. Tende a ser o candidato das oposições. Durante o processo de convencimento dos eleitores, terá de explicar a vários deles as razões por que decidiu se cercar de pessoas contra as quais travou fortes enfrentamentos no passado recente, os bolsonaristas. Ciro Gomes (ainda no PDT), líder do ex-prefeito, é autor da ação que tornou Bolsonaro inelegível, em 2023, por difamar o sistema brasileiro de votação sem provas.

Roberto passou dez anos filiado ao PDT. Pode-se dizer que tempo insuficiente para conferi-lo a condição de pedetista histórico. Contudo, nos dez anos de fileiras pedetistas, cinco deles como prefeito de Fortaleza, mencionou com ênfase lideranças fundamentais do partido, de modo a estabelecer uma diferenciação moral e programática entre os militantes do trabalhismo e os demais agrupamentos partidários.

Duas unidades de educação inauguradas em Fortaleza foram batizadas com nomes históricos do PDT. Em 24/10/2019, Roberto inaugurou, ao lado do então governador Camilo Santana (PT), a Academia do Professor Darcy Ribeiro, para formação e assistência a profissionais da rede municipal de ensino. Em 12/12/2019, inaugurou a Escola de Tempo Integral Leonel de Moura Brizola, no bairro Planalto Ayrton Senna. Dois anos antes, levantou estátua em homenagem ao fundador do PDT na Travessa do Crato, no Centro de Fortaleza, onde fica o Raimundo dos Queijos.

Brizola e Bolsonaro lideraram históricas mobilizações políticas no Brasil. Em 1961, o então governador gaúcho pegou em armas para defender o governo recém-estabelecido de João Goulart, após renúncia do presidente Jânio Quadros. Assegurou o cumprimento da Constituição e retardou o Golpe Militar (1964-1985). Em 8 de janeiro de 2023, influenciados por Bolsonaro, manifestantes depredaram a praça dos Três Poderes por não aceitarem a derrota eleitoral de Bolsonaro, que queria permanecer na Presidência por meio de golpe. A trama foi denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com provas produzidas pela Polícia Federal (PF).

RC esteve em lado diametralmente oposto ao de Jair Bolsonaro (PL) no curso da pandemia da covid-19. A indiferença com que o ex-presidente reagia às recomendações das autoridades sanitárias eram objeto de crítica do ex-prefeito e médico sanitarista, que operava em direção contrária. Em junho de 2020, vereadores de Fortaleza ligados a Bolsonaro tentaram entrar em leitos do hospital de campanha instalado no estádio Presidente Vargas (PV) para filmar as instalações, em manifestação de incredulidade de que ali se cuidava de gente infectada pela covid-19.

Entrevistado pela Rádio Jangadeiro nessa quinta-feira, 5, o prefeito afirmou que as diferenças entre ele e os novos aliados ainda permanecem em algumas dimensões, como “de valores e posicionamentos”. A divergência sobre as bases de uma ideia de democracia são contornáveis? Sigamos. Para ele, porém, a união é necessária para que haja força política objetiva na apresentação de uma alternativa ao governador Elmano de Freitas (PT) e seu grupo, liderado pelo ministro Camilo Santana (PT).

É “interessante” que os adversários explorem as controvérsias de seus entendimentos e esqueçam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no exemplo citado, já tenha “beijado a mão” de Paulo Maluf, avaliou Roberto. “Essas mesmas pessoas esqueceram que o Alckmin disse que o Lula ia voltar para a cena do crime”, argumentou o político em referência ao comentário do então governador de São Paulo, em 2017.

A resposta de Roberto Cláudio é suficiente para quem, no limite, pretende se nivelar, distante de conseguir estabelecer qualquer ideia de superioridade moral sobre os adversários neste quesito. Em nenhum momento da resposta essa possibilidade ficou evidente. Duas interrogações se erguerão para o encerramento deste texto e, possivelmente, novas se levantarão em outros, como desdobramento do mesmo tema, com o mesmo protagonista.

O projeto político contra o qual Roberto Cláudio lança críticas começou em 2006, com a eleição de Cid Gomes para governador. Roberto foi eleito deputado estadual em 2006, na aliança de Cid; depois, escolhido para presidir a Assembleia Legislativa do Ceará (2011-2012); o ponto alto da trajetória política dele está na eleição e reeleição à Prefeitura de Fortaleza (2013-2020). É uma importância bastante considerável dentro de um grupo de pessoas que operaram juntas na política.

Quando, exatamente, ele se convenceu de que seus antigos aliados não eram bons e honestos do modo como pensou por 16 anos consecutivos? Ele atribui a si mesmo alguma culpa pelo insucesso deste projeto, considerada a importância das funções que ocupou? As respostas que deu na campanha de 2022 sobre o tópico, à época recém-rompido com Camilo Santana, não foram suficientes.

Do alto da experiência de quem já demonstrou capacidade de realizar leituras de cenários complexos e defender ideias com habilidade retórica privilegiada, é de se esperar que Roberto Cláudio formule respostas mais sólidas para interrogações desta natureza.

Carlos Holanda é jornalista, esteve na redação do O POVO de 2017 a 2024, foi repórter especial de Política e assinou coluna sobre a desinformação e suas repercussões no debate público

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Respostas de 3

  1. Estão muito preocupados com Roberto Cláudio que teve a coragem de assumir a obra da Av Aguanambi, para citar apenas 1. Não aceitam que ele tente com outros políticos?
    Querem partido único?

    O que levou o brilhante jornalista a registrar o texto abaixo?
    Quando, exatamente, ele se convenceu de que seus antigos aliados não eram bons e honestos do modo como pensou por 16 anos consecutivos?

  2. ….que queria permanecer na Presidência por meio de golpe…..

    Como o Sr. deduziu isso?
    Golpe planejado por Coiote e Papa Léguas?
    Provas mais robustas foram a confissão de desvios na Petrobrás.

    Houve depredação sim.

  3. Engraçado que pera o jornalista tá tudo bem o pt beijar a mão do Maluf em São Paulo, ter como vice presidente da chapa do lula uma pessoa que disse que o Lula voltaria a cena do crime e estar aqui apoiado por deputados Bolsonaristas e por políticos que ajudaram no impeachment da Dilma, quer dizer com o pt tudo bem mas o Roberto Claudio não pode. Sério? Isso só verifica a tendência esquerdista do jornalista que escreve este artigo

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