Com o título “Ato político-religioso em Copacabana fracassa e autoriza o STF”, eis a coluna “Fora das 4 Linhas”, assinada pelo jornalista Luiz Henrique Campos. Ele aborda a manifestação dos bolsonaristas pedindo anistia pelo 8 de Janeiro.
Confira:
A direita brasileira tem uma característica importante que nunca deve ser desprezada, qual seja, a de produzir provas contra si. Próprio de um tempo em que as redes sociais viraram alter ego de muita gente, a exposição tornou-se imperativo dos que se pretendem formadores de opinião, influenciadores, ou como queiram ser chamados. Por essência, essa exposição nas redes é sempre superlativa, mesmo que o resultado disso possa gerar consequências nefastas aos que as propagam. Freud talvez explique.
Assim, desde janeiro, os lideres da direita brasileira venderam aos quatro ventos o dia 16 de março como uma manifestação que mudaria os rumos do país. Na sua elaboração, inicialmente, até se ensaiou puxar o impeachment de Lula. A expectativa criada era reunir um milhão de pessoas em Copacabana, para mostrar a força de Bolsonaro, e se contrapor ao resultado do julgamento que o deve levar a cumprir pena por uma série de crimes.
Em princípio, atingir a expectativa de público projetada pelo bolsonarismo já era meio que uma ilusão, por uma série de fatores. Um deles, somente, para confirmar o risco, tinha sido a quantidade de público nos últimos atos politico-religiosos, com notória diminuição de participação popular. Nesse porém, havia um componente, que é a popularidade de Lula em queda, o que poderia atrair mais gente para o evento bolsonarista.
Mas nem a queda de Lula, muito menos os apelos em favor da anistia dos presos condenados pelo 8 de janeiro, conseguiu levar o número esperado de pessoas. O que se viu em Copacabana foi um fiasco retumbante de público, e a julgar pelo motivo ao qual foi convocado, pode-se depreender que o Supremo Tribunal Federal (STF) saiu fortalecido não só em relação aos julgamentos do 8 de janeiro, mas principalmente quanto ao julgamento do ex-presidente Bolsonaro.
No que diz respeito ao processo de anistia, há uma movimentação na Câmara Federal, mas é preciso aguardar as próximas horas para ver como os parlamentares entenderam o recado de Copacabana. Ontem, o líder do PL , Sóstenes Cavalcante, afirmou em palanque que pedirá a votação do projeto em regime de urgência na Câmara, ou seja, quem pede urgência, tem os votos. Bolsonaro, por sua vez, disse que fechou com Gilberto Kassab, presidente do PSD, apoio do partido ao projeto de anistia. Kassab, até agora, manteve-se calado.
Enfim, como diz o ditado, o peixe morre pela boca, que, em verdade, refere-se ao cuidado que se deve ter ao abrir a boca para falar alguma coisa. Ironicamente, será que esse peixe morreu em plena Praia de Copacabana?
*Luiz Henrique Campos
Jornalista e titular da coluna “Fora das 4 linhas”.