“As perguntas, bobices; as respostas, balbucias; as réplicas, reativas; as tréplicas, terríveis”, aponta o jornalista Norton Lima Jr.
Confira:
O fortalezense está assombrado com o baixo nível dos debates. Baixo nível é porco. A cena é feia, suja, imoral e ilegal. A ilegalidade contra o senador Luís Eduardo Girão foi inaceitável. Girão pode falar na tribuna mais relevante do país, mas foi vetado nos debates em Fortaleza.
Foram cinco debates, cinco oportunidades perdidas, os cinco piores debates para prefeito do Brasil — Band (08/08), O POVO/OAB (28/08), TV Diário (29/08), TV Otimista (16/09), TV Cidade (28/09).
Antes da cadeirada do Datena, a chupada do George Lima concorria com a cabeçada do Dr Pessoa (prefeito de Teresina) como a cena mais grotesca das municipais 2024.
Um pão francês seco tem mais miolos do que esses candidatos fraturados e com contradições expostas. As perguntas, bobices; as respostas, balbucias; as réplicas, reativas; as tréplicas, terríveis.
Desnorteados, sem bússola ou conhecimento da navegação pelas estrelas, singraram à deriva em iates luxuosos pagos pelo fundo eleitoral.
Nenhum deles produziu o pólen dos sonhos em dias melhores para a mundus-cidade Fortaleza. Estiveram fora da realidade, empapados de clichês e ideologias estragadas.
A necessidade é a mãe da inovação. Sem o mapa das necessidades, sem inovação; e sem inovação, o que não tem solução, solucionado está. Esperem apenas mais cadáveres nas lagoas do Urubu no Álvaro Weyne do Carlos Mesquita — prestes a conquistar o 11º mandato e sagrar-se o mais longevo vereador de Fortaleza.
A desinformação crassou. Muito chute, pouca pontaria, zero apuração. Em um dos debates, Sarto limpou 400 rampas de lixo em estalar de dedos, afirmando que seriam 900 e não 1.200 lixões, como denunciou Evandro Leitão sem checar.
Aliás, Sarto e Evandro foram os mais disciplinados. Tiveram script e seguiram algum roteiro. Wagner e André foram os mais esforçados, mas deixaram visível o ensino fundamental deficiente.
André ainda tentou ostentar seus diplomas à distância em moldura de ouro, mas alguém na periferia por dentro gritou, “quanto maior o anel, mais burro o bacharel”.
Andre e Evandro foram os que mais gostaram da campanha. Sarto hidratou-se, mas continuou alheio e sem saco. E Wagner desidratado-se.
Em um dos debates, Evandro falou dos óculos escuros do Sarto, “para não encarar a cidade no olho”. De facto, mui ridículo esse óculos Juliet, símbolo do banditismo loiro-pivete, da vida loka, da cultura gangsta.
Sarto apareceu disforme, sem estilo, sem unidade, a-va-ca-lha-do, oleoso, ensebado. Com essa Juliet na testa, faltou o palito de dente no canto da boca para virar um cafetão. Ausente, reapareceu circense, mambembe, tipo camelô assistente do homem da cobra.
Fez a campanha audiovisual mais cara. Quase matou a equipe de produção com a exigência de minúcias, esquecendo o essencial.
Antes de copiar o marketing que João Campos copiou de Nikolas Ferreira, Sarto deveria ter decidido entre continuar ou mudar. Não decidiu, errou na estratégia de criação publicitária. Abriu flanco para réplica “da Marion pra Juliet nada mudou” e não disse o óbvio, “pronto para mais.”
Sarto deveria ter reaparecido mais sério, soft power, de azul Armani, a cor que renova os velhos; com o antigo lenço vermelho do brizolismo — cores do PDT, cores do Fortaleza.
Sarto falou bem, bateu bem, foi o mais enfático, mas a aparência incoerente o tornou uma Cassandra. Falou verdades, mas sem ouvidos.
Também errou ao vender a idealização publicitária de Fortaleza. Comédia afirmar essa Fortalesma como cidade de bilionários, maior PIB do Nordeste; Dubai brasileira; com a melhor arborização, mobilidade, saúde, educação, iluminação. Não é.
André Fernandes virou um livro de matemática. Perdeu o discurso contra os políticos. Não fez o discurso da juventude no poder. Apagou o discurso contra os donos do poder. Virou um político comum, pró-sistema.
Seu melhor momento foi quando arrancou a “estrela no peito do Evandro”, que esquecera da assinatura no título de cidadão cearense a Bolsonaro. Seu piores momentos foi quando esqueceu do voto em Evandro para presidente da Assembleia; e conflitou Sarto com a ex-mulher. Mostrou-se desrespeitoso e impiedoso e a gente humilde não vota em governante sem compaixão. André continua um gênio, mas entrou menino e saiu moleque.
Evandro foi o melhor posicionado nos debates. Mesmo assim, ganhou réplicas, mas perdeu tréplicas, não ficou com a palavra final.
André conquistou a classe C, criada pelas políticas do PT, mas Evandro conquistou a mulher da classe D. Segundo a Teoria do Genro. O visual é anacrônico, paletó acima das medidas, topete cafona, mas Evandro é o escolhido na música mamãe-eu-quero-me-casar.
Evandro conquistou o PT batendo na tecla respeite o PT, o maior partido da América Latina; Lula, Camilo e Elmano.
O ex-capitão, ex-professor, ex-quase-medico Wagner está com problemas nas cordas. Não conseguiu colocar André nas cordas; nem saiu das cordas sobre a péssima qualidade do serviço de saúde em Maracanaú — a “menos pior do Ceará”, segundo palavras do prefeito Robertão Pessoa.
Essa reta final virou um jogo de basquete, vencerá quem errar menos. O jogo pesado ainda está por vir. A roupa suja vai para o 2º turno.
Sarto terá que explicar os contratos das inúteis OS; Wagner, a evolução patrimonial do João 23 para Cidade Alpha; André terá que se emendar; Evandro terá que explicar os subterrâneos do Ceará Sporting, da Arce, do cargo não concursado de auditor da Sefaz e muito mais.
Vencer debate não é o maior desafio, mas desenvolver o controle social do crescimento de Fortaleza. Quem sentar na cadeira de prefeito (cedo ou tarde) vai saber que o sistema é foda e que não há dinheiro para tudo que se pensa.
Norton Lima Jr. é jornalista