“A caracterização pelo adversário de que a candidatura de Leitão se sustenta em três bengalas (presidente Lula, senador Camilo e governador Elmano) conseguiu passar para o eleitor a sensação de que o candidato não tem substância eleitoral própria”, aponta o jornalista e poeta Barros Alves.
Confira:
De logo, na condição de um dos mais antigos servidores do Poder Legislativo, julgo necessário dizer que não devo favor a deputado, muito menos a presidente da Assembleia Legislativa. Estudei, fiz concurso e fui aprovado para o cargo de Taquígrafo Legislativo, depois transformado com outra nomenclatura em razão de reforma administrativa. Exerci cargo em confiança, chefe do então Setor de Taquigrafia da Casa, nomeado pelo presidente Júlio Rego, já falecido, que atendeu a um abaixo-assinado dos meus próprios colegas, documento que guardo em meus arquivos implacáveis, como diria o escritor João Condé. Destarte, devo manter compromisso institucional com o Poder a que presto contas enquanto servidor. Jamais a nenhum parlamentar em particular. A todos e a cada um dedico o respeito no nível em que meu espírito crítico achar merecedor. O meu apreço maior é por um Parlamento livre, sem peias, infenso a qualquer tipo de pressão. Devo dizer também, por pertinente, que não abro mão, sob hipótese alguma, da liberdade de expressão que me assegura a Carta Magna brasileira e a honra de cidadão livre me impõe.
O arrazoado introdutório se fez necessário para a compreensão do que segue. Fui presidente da Associação dos Servidores da Assembleia Legislativa (1995-1996), quando o deputado Cid Gomes presidia o Parlamento cearense. Com mais de quarenta anos servindo à Assembleia Legislativa, afirmo que o deputado Evandro Leitão não tem sido um mau administrador da Casa, no respeitante à relação para com os servidores. Seria leviandade dizer ao contrário em face da batalha eleitoral que nos divide e nos distancia política e ideologicamente. Porém, a meu parco entender, o presidente da Assembleia Legislativa, com uma trajetória no brizolismo, ao optar pelo PT para costurar uma candidatura à prefeitura de Fortaleza, fez uma aposta deveras perigosa, em especial pelo fato de ter afastado do caminho no processo de escolha do candidato situacionista, o nome da ex-prefeita Luizianne Lins que, é fácil notar, cruzou os braços e, segundo as más línguas, não apenas torce contra a candidatura Evandro Leitão, mas nos bastidores estimula seus seguidores a dispararem “fogo amigo”.
O resultado do primeiro turno foi esclarecedor. O PT não conseguiu vender o gato por lebre. Juntando-se os erros elementares de comunicação da campanha petista com a migração de eleitores das candidaturas adversárias para o candidato André Fernandes, em especial o eleitor wagneriano, eis que o jovem postulante do Partido Liberal conseguiu desmoralizar pelo voto, os institutos de pesquisas, já tão conhecidos pelos erros (ou seriam fraudes?) passados; assim como as duas máquinas detentoras do poder, a municipal e a estadual.
Dois dados devem ser levados ainda em consideração neste percurso rumo ao pleito do segundo turno. Primeiro, o candidato Evandro Leitão não tem nos debates a mesma desenvoltura que apresenta na tribuna parlamentar. Insiste num discurso agressivo, falacioso e cheio de insinuações que não interessam ao eleitor e que não foi chancelado pelo votante, não tendo sido reconhecido como produtivo no primeiro turno. Em segundo lugar, a caracterização pelo adversário de que a candidatura de Leitão se sustenta em três bengalas (presidente Lula, senador Camilo e governador Elmano) conseguiu passar para o eleitor a sensação de que o candidato não tem substância eleitoral própria e que sem as bengalas vai ao solo. Ademais, para o eleitor medianamente informado, as bengalas estão enferrujadas. Não seguraram candidaturas importantes para o PT, como as de Juazeiro do Norte e de Sobral, entre outras, onde o partido foi derrotado. Lembre-se também que o líder do PT na Assembleia Legislativa, deputado De Assis Diniz, perdeu a eleição em Cedro, sua terra natal. De igual modo, o irmão do deputado Romeu Aldiguéri, líder do governo Elmano, foi derrotado em Camocim; e o filho em Jijoca de Jericoacoara. Há nuvens plúmbeas nos céus do PT.
Barros Alves é jornalista e poeta
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Com pedido de desculpas aos leitores, corrijo erro que cometi neste artigo e adiciono outra informação:
1. O candidato derrotado em Jijoca de Jericoacoara foi Márcio Aldiguéri, irmão do deputado Romeu Aldiguéri, líder do governo petista na Assembleia Legislativa do Ceará.
2. Euvaldete Ferro foi a candidata derrotada em Camocim, também apoiada pelo deputado Romeu Aldiguéri.
3. A outra derrota do líder do governo ocorreu no município de Barroquinha, onde a candidata Tainá Marinho era apoiada pelo parlamentar.