“Bolsonarismo perde até quando ganha” – Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Ricardo Queiroz é pesquisador

“Luta entre Popó e Wanderlei encenou, em carne e osso, o bolsonarismo: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo”, aponta o pesquisador Ricardo Queiroz Pinheiro

Confira:

Ontem teve essa luta armada entre Popó e Wanderlei Silva, no Spaten Fight Night 2. Dois veteranos dos ringues, um no boxe, outro no MMA, já fora do auge, em um show que nunca foi esporte de verdade, apenas entretenimento para vender ingresso e gerar repercussão.

No ringue, Wanderlei ignorou as regras, enfiou três cabeçadas ilegais e acabou desclassificado. Popó venceu sem esforço, por formalidade, sem que houvesse luta de fato. Até aí, zero a zero, quem pagou viu o que merece.

Mas veio o gran finale: como se não bastasse a bizarrice inata, no fim estourou uma briga generalizada — empurra-empurra, hospital, nariz quebrado. Ou seja, ninguém ganhou nada.

Essa cena, com toda a sua mediocridade, é uma boa metáfora para pensar a política. Não pela importância da luta, que não tem, mas pelo tipo de lógica que ela revela: uma encenação que gira em falso, uma farsa que termina em violência e deixa todos derrotados.

O bolsonarismo funciona na mesma chave. É espetáculo grotesco, política de presepada, sustentada em mentira, violência e encenação. Alimenta-se do caos que fabrica e da encenação de polarização que explora.

Mesmo quando parece vencer, já perdeu. É a lógica corrosiva: o bolsonarismo perde até quando ganha. Cada “vitória” é uma derrota disfarçada, um triunfo que deixa o país mais dividido, mais esgotado, mais desmoralizado.

E não é detalhe que os dois sejam bolsonaristas. Porque ali estava encenada, em carne e osso, a gramática desse movimento: o golpe baixo como estilo, a regra ignorada como método, a destruição como espetáculo.

No fim, a imagem que restou foi a mais irônica: Wanderlei Silva, desleal no ringue, terminou vítima da própria deslealdade. Tomou soco no olho, saiu desmaiado, com a cara inchada, simbolizando o epílogo grotesco dessa farsa.

É assim que o bolsonarismo opera: é desleal, perde até quando ganha — e se não nos descernirmos pode arrastar um país inteiro junto com ele.

Ricardo Queiroz Pinheiro é bibliotecário e pesquisador, militante do livro e leitura, doutorando em Ciências Humanas e Sociais (UFABC)

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