“Nesse trecho, o ambiente escolar, tão rico em vivências, trazendo mais uma: a das conquistas amorosas, que em grande parte, grudam no coração”, aponta o professor João Teles. Confira:
“Os adversários da música popular, do povão, tacham músicas assim, como bregas. Num inadmissível pejorativo. Quantos de nós não fomos embalados, por esse tipo de romantismo, no tempo dos flertes, paqueras, namoricos e namoros; sem falar nos foras monumentais. Bebíamos, ficávamos tontos, capiongos, ensimesmados e jururus, ouvindo essas “belas páginas musicais”, como diziam ou locutores de outrora, com sua voz de trovão. José Augusto, o cantor/compositor, nos acompanha, nesse cavaco:
“Foi numa festa outro dia/Que eu te encontrei a dançar/Namoradinha de infância/Sonhos da beira do mar/Você me olhou de repente/Fingiu que tinha esquecido/E com sorriso sem graça, me apresentou ao marido. (…).”
Imagine essa dor, para um pixote, iniciante, nas cousas do amor. Doloroso, não? Mas era assim nossa vida de meninote, indo aos parques de diversão, para ver os botes e carrinhos de bate-bate… As rodas gigantes, a música, que tocava na amplificadora de som, sem deixar de ver meninas, de então. Algumas bem malvadas, com o coração (imberbe) da gente:
“E o resto da noite dançou pra valer/Se teus olhos me olharam fingiram não ver/No meu canto eu fiquei entre o riso e a dor/Lembrando do primeiro amor.”
Quanta indiferença, quanto coração duro, com quem ainda ensaiava as primeiras experiências. Que dificuldades enfrentávamos, ainda meninos:
“Pra me beijar precisava/Ficar na ponta dos pés/Eu tinha então oito anos, mas te menti que eram dez/Lembro você orgulhosa da minha calça comprida/Vínhamos juntos da escola sem qualquer medo da vida!”
Nesse trecho, o ambiente escolar, tão rico em vivências, trazendo mais uma: a das conquistas amorosas, que em grande parte, grudam no coração. Por essas e outras, a música não pode ser descartada, diminuída ou ridicularizada, por ninguém.
Uma música que faz um pobre, da periferia ou do interior, chorar em uma bodega, com saudade da mulher amada, da irmã ou da mãe, não pode ser tida, como uma música de segunda linha, só porque não agrada as camadas da parte de cima da pirâmide social. Não é assim.
Ainda bem que existe os programas de rádio, que ainda rodam essas músicas, trazendo uma carrada de lembrança do interior, das festas da padroeira, das feiras e praças da cidades, que ainda hoje nos trazem tantas (boas) lembranças. Viva o nosso bregão!
João Teles de Aguiar é professor, historiador, e integrante do Projeto Confraria de Leitura