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“Busão da Vida” – Por Totonho Laprovítera

Totonho Laprovítera é arquiteto e escritor. Foto: Reprodução

Com o título “Busão da Vida”, eis mais um conto da lavra de Totonho Laprovítera, arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

Confira:

“Procuro um ônibus da linha da felicidade.” (Sitônio da Parangaba) Todo mundo sabe, ô nibus é um carro grande, cheio de gente, que corre pelas ruas, avenidas e estradas, levando histó rias, cochilos e apertos. Agora, como dizia o saudoso professor Kardo Ali Khan, “sonhar com ônibus lotado, naquele empurra-empurra por um lugarzinho, é sinal de que na vida tudo é passageiro”.

A primeira vez que andei de ônibus, ainda existia trocador – em uma mão, um bolo de cédulas entre os dedos; na outra, fichas plásticas como bilhete. E, ali dento, a placa avisando ser proibido conversar com o motorista e fumar cigarro de palha. Andar de ônibus faz um bem danado! Faz bem aos bem-humorados, aos que precisam de mobilidade urbana, mesmo que ela não chegue no horário, e, principalmente, aos de bem com a vida, que aproveitam a viagem para colecionar causos – uns engraçados, outros cheios de lição. No fim, ônibus é transporte e palco onde a cidade encena seu dia a dia.

Quem anda de ônibus escuta cada conversa… Na linha Circular 2, um sujeito falante apontou para um arranha-céu e perguntou por que prédios altos são chamados de edifícios. Um senhor, equilibrando-se com um embrulho de pão, não soube responder. O sabichão, então, com ares professorais, tirou o bico de um dos pães do senhor e chutou: “Perguntaram ao engenheiro se era fácil construir, e ele disse ‘é difícil!’, mas entenderam ‘edifício’. E o nome pegou!” Haja imaginação!

Em outra viagem, duas jovens senhoras falavam sobre a alimentação dos filhos bebês. Uma disse: “O pediatra da minha menina de quatro meses, mandou dar arroz e feijão pra ela.” A outra, intrigada, perguntou:“E papa?” A mãe olhou de través e disse: “Não existe mais papa!” Aí, uma cidadã do banco de trás, que dedilhava o celular enquanto escutava a conversa alheia, arregalou os olhos e gasguitou, soluçando: “O Papa morreu?!”

Pronto! Foi um fuzuê danado. Teve grito, faniquito, choro e gente fazendo o sinal da cruz. O motorista parou o ônibus, ligou o rádio na espera da notícia, e nada! Um passageiro, antenado, consultou as redes sociais e, para alívio geral, anunciou: “Gente, é fake news! O Santo Padre está vivinho da Silva!”

No ônibus, lá pelo Bairro Benfica, bastou um cidadão espirrar e alguém gritar “Saúde!” para iniciar o manifesto: um logo pediu “Educação!”, outro “Segurança!”, e dali foi um festival de reivindicações – “Direitos iguais!”, “Transporte decente!”, “Salário digno!”. E assim, de um simples espirro, nasceu uma assembleia popular. E desse jeito seguimos, entre um aperto e outro no busão da vida, mas sempre com boas histórias para contar.

*Totonho Laprovítera

Arquiteto urbanista, escritor e artista plástico.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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