Com o título “Caem dois aviões por mês no Ceará”, eis artigo de Plauto de Lima, coronel da reservada pMCe e mestre em Planejamento de Políticas Públicas. Ele aborda o cenário de tantos homicídios no Estado.
Confira:
A queda de um avião sempre é uma notícia que mexe profundamente com os sentimentos humanos. Afinal, trata-se de uma tragédia que tira a vida de dezenas ou até centenas de pessoas. Lembro-me da queda do avião da VASP em 1982, que ocasionou a perda de 137 vidas em um único evento, causando estarrecimento entre os moradores de Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde o avião caiu. Na época, a cobertura da mídia enfatizou não apenas o acidente em si, mas também as histórias e os rostos das vítimas, reforçando a conexão emocional com o ocorrido.
Acidentes aéreos, embora raros em comparação com outros tipos de sinistros, têm a capacidade de despertar empatia e reflexões sobre a segurança da aviação, bem como sobre a dor da perda. A sociedade se une em luto e solidariedade, buscando entender as causas e as consequências, frequentemente se questionando sobre a vulnerabilidade humana diante de eventos imprevistos.
A reflexão sobre o impacto emocional e o luto coletivo que emergem de um acidente como o da VASP é essencial. Esse tipo de tragédia não deve ser visto apenas como uma estatística, mas como uma oportunidade para reforçar valores como empatia, solidariedade e a importância de cuidar e proteger a vida humana em todas as suas formas.
No entanto, ao olharmos para os dias atuais, registramos cerca de 300 pessoas assassinadas por mês no Ceará. Isso equivale à queda de dois grandes aviões lotados de passageiros em terras cearenses. A reação solidária do povo cearense do passado não é mais observada. É como se a empatia, um dos nossos sentimentos mais marcantes, tivesse desaparecido. Não causa mais espanto notícias de assassinatos, mesmo quando se trata de casos horríveis, como pessoas decapitadas em hospitais, esquartejadas em avenidas movimentadas, boiando em praias, torturadas e mortas na frente dos filhos, ou abusadas sexualmente até o óbito diante de familiares.
As mortes violentas que ocorrem diariamente no Ceará parecem ser aceitas como parte da rotina. A brutalidade dessas tragédias não apenas choca, mas também demanda uma resposta da sociedade: a necessidade de não considerar tais ocorrências como normais. A normalização da violência é uma ameaça à dignidade humana e à coesão social, e só interessa aos políticos vigentes no poder, que justificam a sua incompetência na área da segurança, reforçando várias vezes a frase falaciosa de que “a violência aumentou em todos os locais”. Isso é um virar de costas ao problema que encontramos frente a frente nas esquinas das cidades cearenses. Um salve-se quem puder ter carro blindado, segurança particular ou segurança público-particular, como é o caso do governador e dos recentes reeleitos ex-governadores do estado que deixaram as cidades tomadas pelo crime e a população refém das facções criminosas.
Apesar de nossos gestores estaduais não respeitarem as vidas ceifadas aos milhares dos cearenses, o valor da vida deve ser sempre celebrado e protegido, seja no céu ou na terra. Não podemos aceitar essa catástrofe humana como algo natural ou sem solução. Não devemos permitir que esses fatos sejam naturalizados em nosso cotidiano.
*Plauto de Lima,
Coronel RR da PMCe e mestre em Planejamento de Políticas Públicas.