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“Caixão de Almas” – Por Francisco J. Caminha

F.J.Caminha, escritor e ex-deputado. Foto: Divulgação

Com o titulo “Caixão de Almas”, eis mais um conto da lavra de Francisco J. Caminha, escritor e ex-deputado estadual.

Confira:

O celular toca e logo atendo. Uma voz forte e apressada reverbera nos meus tímpanos assim:

– Zier! Macho, o caixão está demorando chegar, minha mãe tá na pedra. É melhor que ele tenha visor. Me diz aí se tá chegando.

Zier é especializado em providenciar enterros para seus eleitores e demais pessoas pobres sem condições financeiras que o procuram.

Fomos vereadores na mesma legislatura e o seu número de telefone era quase igual ao meu, por isso, de vez em quando, eu recebia mensagens inusitadas como a descrita.

Umas das preocupações das famílias mais pobres é garantir um plano funerário para não viver o vexame de ter que recorrer a um político numa hora tão sofrida e delicada. Por isso, elas fazem um esforço imenso para pagar as mensalidades dessas funerárias populares, que ganham milhões com o negócio e seus acessórios.

A respeito do assunto, Cláudio Cruz me conta que antigamente, na pequena cidade de Jardim (Região do Cariri), no Ceará, havia um serviço prestado pela Igreja Católica denominado “Caixão das Almas”. Era um esquife comunitário disponibilizado pelo padre para atender às famílias mais pobres, que não podiam arcar com a aquisição de um caixão.

Os familiares, a pé, conduziam a urna funerária até o cemitério. Lá faziam o sepultamento do corpo somente e devolviam o caixão para ser reutilizado.

Conta-se que, em determinado momento, a única funerária da cidade ficou sem estoque de caixão. O ente querido de um falecido de família nobre procura o padre para comprar o “Caixão das Almas”. O padre alegou que não pode ceder a única urna disponível para atender aos pobres.

– Padre, o caixão é para meu pai. Eu pago bem por ele, e já encomendei dois caixões novos, que vou doar para a igreja. Vão chegar logo.

– Difícil, meu filho!, retrucou o padre.

– Ainda vou doar uma quantia para a Igreja. É só o senhor pedir a Deus que não morra nenhum pobre nos próximos sete dias.

Em nome da caridade, o padre vendeu o caixão.

*Francisco J. Caminha

Escritor e ex-deputado estadual.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

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