Com o título “Capacete Elmo recebe upgrade e gera Elminho, sua versão pediátrica”, eis artigo de Flamínio Araripe,jornalista. Ele aborda o sucesso que foi o Elmo, usado durante a pandemia para salvar vídas.
Confira:
O capacete Elmo de respiração artificial recebeu um upgrade e ganhou versão adaptada para crianças e adolescentes, o Elminho, em fase de desenvolvimento para ser lançado no mercado. Esta invenção cearense que salvou vidas na pandemia do coronavírus recebeu premiações no Brasil e conquistou o internacional Prêmio Euro de Inovação tecnológica aplicada à saúde, que possibilitou recursos para a criação da Fundação Elmo, com sede em Fortaleza.
“A Fundação Elmo tem por objetivo o incentivo a pesquisas científicas voltadas ao desenvolvimento de tecnologias destinadas ao suporte à respiração”, diz o estatuto da ONG. O documento prevê ainda a abordagem a desafios complexos, a promoção e apoio “a iniciativas e atividades de pesquisa, inovação, educação e memória”.
O Elminho, idealizado por Marcelo Alcântara, é o primeiro projeto apoiado pela Fundação Elmo, “pensado para auxiliar na respiração e evitar a intubação de pacientes pediátricos”, para ser utilizado em pequenos de 6 meses a 14 anos de idade. Nesta faixa etária, ocorrem 335 mil internações hospitalares no Brasil, com registro de 1.600 mortes, 50% nas regiões Norte e Nordeste, informa Marcelo Alcântara Holanda, diretor de Inovação da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza que idealizou em abril de 2020 o capacete Elmo e coordena a Fundação Elmo.
Médico pneumologista e intensivista, professor da UFC, Marcelo Alcântara Holanda foi superintendente da Escola de Saúde Pública Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP), na época da criação do capacete Elmo. Quando representante da ESP, ele propôs o desenvolvimento do capacete, depois denominado Elmo, como a melhor opção para enfrentar a falta de respiradores e de leitos de UTI, em vez de seguir a linha mundial e nacional de querer fabricar um ventilador mecânico.
Em abril de 2020, o então superintendente da Escola participou de reunião virtual com a Unifor, UFC, Sistema Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) e Senai para discutir que resposta tinha o governo, academia e iniciativa privada diante dos desafios da pandemia do coronavírus. Na ocasião, foi aceita a proposta de Marcelo Alcântara para ser criada uma solução tecnológica que prevenisse a necessidade de intubação e portanto de internação em UTI dos pacientes com Covid-19 moderada e grave.
Segundo o ex-superintendente, o desenvolvimento do Elmo constitui exemplo de que a articulação entre setor público e iniciativa privada possibilita achar soluções impactantes que beneficiam a vida das pessoas. Ao longo de 2021, mais de 10 mil capacetes Elmo foram distribuídos no Brasil – 6 mil no Ceará, informa Marcelo Alcântara. O idealizador da solução calcula em mais de 40 mil as pessoas beneficiadas com o equipamento no país – mais de 25 mil no Ceará, uma vez que o mesmo capacete foi usado em até 4 ou 5 pacientes.
O desenvolvimento do Elminho foi discutido por Marcelo Alcântara com professores da Faculdade de Medicina da UFC e, num segundo momento, com o atual superintendente da Escola de Saúde Pública, Luciano Pamplona, e o diretor de Inovação, Ciência e Tecnologia em Saúde, Sales Ávila. No apoio ao Elminho, a Fundação Elmo vislumbra parcerias com entidades de pesquisa, como as instituições que participaram do desenvolvimento do Capacete Elmo.
O encontro com os gestores da ESP/CE “marcou a abertura do diálogo sobre futuras parcerias na área da inovação”. A agenda incluiu “a discussão de projetos nas áreas da educação permanente, com foco no fluxo de pesquisas entre ESP/CE, Santa Casa e UF), além do fortalecimento da Rede de Inovação Aberta em Saúde do Ceará (Rias)”. A Rede, criada pela ESP na gestão de Marcelo Alcântara – que tornou a Escola um Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) e criou a Diretoria de Inovação -, envolve mais de 20
instituições, universidades, IFCE, o sistema Federação das Indústrias do Ceará (FIEC) e Senai. O ex-superintendente considera a Rede um marco temporal que pode ser um divisor de águas muito positivo para o ecossistema de inovação no Estado do Ceará.
“Os grandes problemas que o SUS e o sistema de saúde suplementar vivem precisam de uma visão sistêmica colaborativa de inovação”, argumenta o médico-pesquisador. Segundo ele, diferentes setores sociais – iniciativa privada e setor industrial, eventualmente indução do Estado -, podem participar de um novo ecossistema para achar soluções para os grandes gargalos ou problemas enfrentados na saúde pública no Ceará e no Brasil.
Alcântara observa ainda que a inovação pode também transbordar para além das fronteiras do Estado do Ceará e do país. O pesquisador defende a implantação de um modelo de distritos de inovações de saúde que podem ser áreas também de fomento e ambientes favoráveis à agregação de empresas parceiras e de desenvolvimento também de produtos.
Em 2023 o Elmo incorporou novas funcionalidades e melhoria de conceito, em parceria da UFC, Unifor e Escola de Saúde Pública. O projeto inclui aperfeiçoamentos na parte eletrônica do software para monitorar parâmetros de respiração, frequência, oxigênio. Os dados ficarão disponíveis para a equipe médica. A necessidade de ventilação de um paciente com insuficiência respiratória – mesmo sem COVID – é atendida hoje no ambiente hospitalar com equipamentos muito caros, inacessíveis a pequenos hospitais, que constituem o nicho de mercado para o Elmo aperfeiçoado.
*Flamínio Araripe
Jornalista.