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“Capitalismo de bilionários no Ceará”

Osvaldo Araújo é economista. Foto: Arquivo Pessoal

Com o título “Capitalismo de bilionários no Ceará”, eis artigo de Osvaldo Araujo, economista, professor e escritor. Ele aborda o Hidrogênio Verde que, por enquanto, é só notícia de jornal e papo em seminários.

Confira:

Tão forte e repetitiva é a comunicação em torno do Hidrogênio Verde, que ela começa a alimentar dúvidas, para não falar de desconfiança. É, segundo tais informações, um negócio tão cheio de virtudes e méritos que qualquer ente de juízo começa a cismar.

No começo (e lá se vão anos) anunciava-se como um achado cearense. Verificou-se que mais de uma dúzia de estados diz exatamente a mesma coisa. Até o governo de São Paulo subiu no palco, quer dizer, entrou na disputa.

O que se diz faz tempo: é um negócio rentável, um largo passo estratégico, o futuro sustentável, o mercado é infinito, os desdobramentos incontáveis, a oitava maravilha. Tudo bem, talvez seja, mesmo. Por que não?

O que justifica uma mínima desconfiança, um ligeiro pé atrás, é que nenhum empreendedor partiu na frente e começou a produzir, armazenar e exportar a nova commoditie. Ora, sair na frente e ser o primeiro é a marca do capitalismo.

Por enquanto, só notícia de jornal e muito seminário, muita reunião e algumas consultorias (de projetos logísticos, de viabilidade econômica, de formulação jurídica…). Todo mundo articulando em torno das instâncias de poder público, sobretudo governadores. E muitos “protocolos de intenção”.

Enquanto os empresários não dão os primeiros passos para montar suas plantas industriais, com seus próprios recursos, as notícias vão caminhando na direção mais clara do que significam os muitos bilhões de reais que o negócio requer.

O noticiário indica que os empreendedores esperam que o poder público, usando recursos públicos, tomem “providências”: adaptem e equipem suas estruturas portuárias, realizem todos os estudos preliminares necessários, ofereçam terrenos, garantam a infraestrutura de serviços básicos, ofereçam benefícios tributários, formação de mão de obra, facilidades ambientais e financiamento de bancos públicos, que juntos e misturados representarão os muitos bilhões de “investimento”.

Investimento de quem? Que capitalismo é este?

Um consultor chega a “recomendar” que estados e municípios se comprometam a adaptar suas frotas de veículos e criar redes municipais de comercialização para garantir mercado, e que as universidades públicas criem cultura técnica na área do hidrogênio verde.

Uma coisa começa a clarear: esse “investimento” de centenas de bilhões tende a sair dos cofres públicos.

Então, se assim for, e esperamos estar equivocados, se o capital vem do Estado, se a infraestrutura vem do Estado, se o risco, portanto, é do Estado, porque os possíveis bilhões de lucro vão para particulares?

Se isso, digamos, é realmente inevitável, quem são e como são escolhidos esses “empresários”?

Ah, o noticiário pouco ou nada fala dos ganhos sociais, o que ganha a maioria da população, o que ganha o Ceará além de mais um ou dois bilionários.

*Osvaldo Araujo

Economista, professor e escritor.

Eliomar de Lima: Sou jornalista (UFC) e radialista nascido em Fortaleza. Trabalhei por 38 anos no jornal O POVO, também na TV Cidade, TV Ceará e TV COM (Hoje TV Diário), além de ter atuado como repórter no O Estado e Tribuna do Ceará. Tenho especialização em Marketing pela UFC e várias comendas como Boticário Ferreira e Antonio Drumond, da Câmara Municipal de Fortaleza; Amigo dos Bombeiros do Ceará; e Amigo da Defensoria Pública do Ceará. Integrei equipe de reportagem premiada Esso pelo caso do Furto ao Banco Central de Fortaleza. Também assinei a Coluna do Aeroporto e a Coluna Vertical do O POVO. Fui ainda repórter da Rádio O POVO/CBN. Atualmente, sou blogueiro (blogdoeliomar.com) e falo diariamente para nove emissoras do Interior do Estado.

Ver comentários (4)

  • Para refletir
    Colocações prudentes e preocupações sensatas
    Mas existem investidores estrangeiros mais concordo com a desconfiança
    Qual valor vão aportar de recursos os verdadeiros bilionários

  • Raposo Fontenele, antropólogo, com estudos publicados sobre o Ceará, entendia que as fortunas cearenses traziam, de origem, o lastro de ganhos mediante favores do Estado. No fundo, dizia, tudo se origina na fazenda pública, que o talento empresarial vai ampliando e alargando.

    A família, a oligarquia são mecanismos deste processo de enriquecimento que não pude ser designado como pouco honesto. Mas são recursos privilegiados, sabemos, trazido pelas vias das concessões.

    No mais, tudo no Ceará, dizia ele, começa ou termina como mercancia, como atividade comercial. O cearense é antes de tudo um comerciante..,

  • “Denunciai e anunciai”, apontamento bíblico que requer disposição e coragem. O texto do economista, professor e escritor Osvaldo Araújo, intitulado Capitalismo de Bilionários no Ceará, muito bem escrito e com ares de autêntica cidadania, cumpre esse relevante papel. Que o Estado, administre bem - os abutres do capitalismo estão à espreita. Olho Vivo! 👀

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